Na semana passada, que marcou o lançamento da versão 0.8 do Samuel, um bocado de coisas passou pela minha cabeça. Começa com todas as fics que já criei dentro da pasta “Projeções que pais e mães fazem para suas crias”. Algumas simples, outras mais elaboradas, todas sem o menor compromisso de tornarem-se reais.
Samuel pode ser um romancista que terá sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, dada a sua capacidade de contar histórias. Ou um Relações Públicas de sucesso porque tem o sorriso fácil e o mais cativante já registrado. Finalmente, por conta das coxinhas, estou diante do kicker novato que dará ao Carolina Panthers o primeiro Super Bowl da história do time. (Para essa, tenho até a frase que será ouvida no ano de 2045 durante Draft, o recrutamento de novatos na NFL).
Esses devaneios são frutos do que vejo todo dia: aquele serzinho frágil dos primeiros dias agora é um bebê forte; expressivo com risadas, sorrisos e manhas – uma delas valeu um presente na loja de brinquedos do bairro – além de criativo e curioso.
O problema é que essa capacidade de inventar futuros é a mesma que cria ansiedades achando que coisas serão resolvidas em um passe de mágica. “Vrá!” e ele começa a gostar de comida e colocar coisas na boca. “Ping!” e ele começa a parar de engatinhar pra trás e começa a engatinhar pra frente.
Somar isso às réguas e validações externas da parentalidade perfeita de Instagram representa um risco. Acabo anulando essa observação mais apurada e a capacidade de perceber as nuances e os pequenos avanços, esses bem relevantes.
Quando amplio o olhar, percebo os avanços. Nos últimos dias, foi incrível perceber que ele me deixou colocar a escova de dentes em sua boca e limpar os três protótipos de dente. Mais do que isso, vê-lo devorar um hamburguinho foi um momento mágico. A curiosidade no sabor, a mastigação e os pedacinhos espalhados pela boca, rosto, mesinha, cadeira e chão. Uma cena digna de Discovery Channel, “cai a noite na floresta e o predador delicia-se com sua presa”, e também um poderoso lembrete de que é preciso respeitar o tempo da criança.
Respeitar o tempo do Samuel. Queimar etapas não vai acelerar nenhum processo, porque isso não é uma linha de montagem.
Só ajuda a criar ansiedades e parar de perceber a maravilha que é o seu processo de descobertas.
Avante.