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O Círculo Musical da Construção de Soluções – Improviso

Outro dia, a Carol me mandou este post da Misty Copeland contando sobre a primeira vez que dançou em um show do Prince. Misty é a bailarina principal do American Ballet Theater, uma das principais companhias de balé clássico do mundo. O Prince foi o Prince, um dos músicos mais completos, criativos e disruptivos da nossa era.

Misty conta que chegou em Nice (França) sem coreografia, sem ensaios, sem planos. Só tinha uma lista de músicas e uma orientação: “você vai abrir o show”. Subiu ao palco, começou a dançar e viu uma plateia sair do silêncio para a excitação. Em seu texto, ela diz que as pessoas ficaram empolgadas ao verem Prince no palco. A caixa de comentários diz o contrário, a excitação era por ela.

Abaixo, uma apresentação dos dois no programa Live on Lopez Tonight, em 2011.

Essa historinha reflete o que é o Improviso dentro do Círculo Musical da Construção de Soluções:

A capacidade de resolver o problema com os recursos disponíveis, ou como em um solo, pegar um outro caminho e depois voltar para a estrada principal”.

Prince sabia quem era a Misty Copeland e que ela seria plenamente capaz de entregar algo lindo no show. Mesmo fora da zona de conforto, Misty também sabia que conseguiria fazer o que foi pedido. O repertório amplo, as horas e horas de prática, e o suporte daquelas pessoas que dividem o palco são o alicerce para o improviso.

Muito além de apagar incêndios

Se eu lesse isso há alguns anos, ficaria incrédulo. Para mim, entendia a improvisação como uma forma “afobada” de resolução de problemas, “a única saída possível”. Por exemplo:

  1. Em 2003, a luz acabou no meio de um show do Venal, minha banda da época. A maneira que encontrei para manter o público animado foi tocando o groove de “Baba Baby” da Kelly Key. A banda cantou alto para o público cantar junto. Funcionou.
  2. Em 2014, descobri que iria conduzir uma reunião em outro idioma no momento que entrei na sala. Nunca havia liderado um encontro em outra língua que não o português. Fiz uma condução travada, protocolar e que só não foi horrível porque contei com a ajuda das pessoas presentes para fazer o trabalho. Também deu certo.

Tocar jazz foi o caminho que encontrei para perceber como o Improviso significa não somente uma forma de apagar um incêndio, mas também um mecanismo de experimentação, de expressão e de construção em conjunto. Entender isso foi fundamental para ressignificar alguns momentos da minha jornada e mudar minha forma de trabalhar, seja como músico e/ou também profissional de educação corporativa.

Outras definições de improviso

No livro “Something to Food About”, o baterista, produtor e diretor Ahmir “Questlove” Thompson entrevistou chefs de cozinha sobre processo criativo. Ali, Questlove conta que “os artistas de jazz tocavam as mesmas músicas noite após noite. A habilidade de achar variações sutis a cada noite, sem sacrificar a essência da música, foi o que os tornou grandes”. O improviso significa inovação incremental perante um mundo em constante mudança. (Falei desse livro aqui)

 

Um mundo em constante mudança também exige múltiplas habilidades. Em “Yes to the Mess: Surprising Leadership Lessons from Jazz“, o autor Frank J. Barrett afirma que as organizações precisam de um “grupo de especialistas diversos vivendo em um ambiente caótico e turbulento; tomando decisões rápidas e irreversíveis; altamente interdependentes uns dos outros para interpretar informações imperfeitas e incompletas; dedicados à inovação e à criação de novidades”. Isso é uma banda de jazz, na definição de Barrett.

Essa foi a primeira vez que vi um contraponto à frase do Peter Drucker, o guru da administração, que afirmava: “o líder empresarial do século XXI é como um maestro de orquestra que, seguindo uma partitura prescrita, extrai grandes performances de uma orquestra não necessariamente composta por grandes músicos”.

Dos palcos aos escritórios

No jazz, improvisar está nas regras do jogo: fazer um solo e experimentar novos caminhos e linguagens para isso. Vindo das experiências no pop, no rock e no blues, estar em evidência dessa forma não era algo comum para mim. Eu dominava os fundamentos essenciais: o suporte e o compromisso com as pessoas dentro e fora do palco. Porém, a rotatividade do papel de líder era a grande novidade.

Ser o solista significa fazer algo interessante, musical, que mantenha a banda e o público atentos e animados. Isso exige prática e repertório. Mas, se pararmos para pensar, não é tão diferente de uma reunião de trabalho, especialmente aquelas com muitas áreas envolvidas. É necessário estar preparado para a sua hora de falar. A diferença é que no palco, não há espaço para a desconexão com o grupo. A partir do momento que entrego meu solo (e o papel de líder) para outra pessoa, sigo atento para apoiá-la. Essa versão de “Windows” do Chick Corea, interpretada pela minha banda de jazz em São Paulo, mostra essas transições:

Improvisar também significa colaborar. Nos dois momentos, é preciso ter presença e intenção. Na falta desses elementos, o solo se perde e a banda se desarticula. Com esses elementos presentes, criamos vínculos de confiança e colaboração.

Improviso na prática

Pegue o que Frank Barrett disse e perceba como os ambientes de trabalho atuais exigem que estejamos improvisando a todo momento. O desafio é ter habilidades em nossa caixa de ferramentas que nos permite ficarmos confiantes para experimentar, inovar, ouvir opiniões e resolver problemas.

No aspecto pessoal, comecei a ficar confortável a partir de pequenos ajustes em minha prática:

  • No trabalho, comecei a anotar/roteirizar algumas falas, especialmente aquelas em grandes grupos, para manter a atenção das pessoas, coesão e clareza;
  • Nos solos de bateria, diminuí a economia e repetição de notas, criando variações para deixar o solo mais interessante a partir do momento que fiquei mais confortável com o papel.

Coletivamente, comecei a reconhecer e valorizar quando o Improviso apareceu. Seja participando de reuniões e projetos que envolviam áreas completamente distintas da organização, como as reuniões da WorldSkills; fazendo apresentações que exigiram ajuste de rota em tempo real no Centro Lemann, aprendendo e ouvindo com pessoas que têm pontos de vista bem divergentes dos meus nas reuniões de conselho que participo. A escuta, a presença e a colaboração sempre estiveram presentes para resolver problemas, desenhar soluções e gerar ideias a partir das informações disponíveis e do repertório dos presentes.

Na música, um exemplo ideal

Um dos melhores exemplos de tudo o que falamos está no vídeo abaixo. A banda do baixista Marcus Miller faz um cover improvisado de “Rehab”, canção clássica de Amy Winehouse. Na edição 2007 do festival holandês North Sea Jazz Festival, Miller e sua banda precisaram cobrir a ausência de Amy, que não pôde fazer o show. Algumas pessoas apareceram como convidadas: o DJ Logic, a saxofonista Candy Dulfer e o também saudoso trompetista Roy Hargrove. O resultado foi esse:

Observem como a música vai se desenvolvendo, com o público em êxtase, sem seguir uma estrutura rígida. São vários os momentos de construção:

  • Ao perceber que os metais aprenderam a estrutura da música, Marcus – que começa o show tocando clarone –  joga a partitura no chão;
  • Ele estende os compassos de solo a partir de Roy Hargrove.
  • Já no fim do seu solo de baixo, Marcus sinaliza o final da música, mas a banda demora algumas notas para perceber. O erro não compromete em nada o resultado final.

Em pouco mais de seis minutos, aquelas pessoas construíram um momento incrível com os recursos disponíveis, pegaram vários caminhos para depois retornarem à estrada principal. Fizeram isso com tranquilidade, pelos mesmos motivos de Misty Copeland no começo do texto: repertório amplo, as horas e horas de prática e o suporte de quem estava dividindo o palco.

Dez anos depois

Há dez anos, em 11 de agosto de 2015, acontecia a Cerimônia de Abertura da WorldSkills São Paulo 2015, a maior competição de educação profissional do mundo.

O evento no Ginásio do Ibirapuera foi só o primeiro momento de adrenalina e emoção que também pautou os quatro dias seguintes de competição e mais a Cerimônia de Encerramento. Fiquei emocionado vendo a coreografia, a entrada das delegações e me lembro de estar ao lado do John Cox, Gerente de Operações e Sistemas de Informação da WorldSkills, que me contava as tradições daquele momento: “A Nova Zelândia faz o Haka. A Suíça entra com um grande sino”, e eu inaugurei uma própria tradição: chorar quando a delegação brasileira apontou. Era incrível pensar que estávamos entregando o que havíamos planejado.

E o glamour sempre andou acompanhado do trabalho. Depois da cerimônia, voltamos para o Anhembi. Subi para meu quarto no Holiday Inn, troquei de roupa e desci para rodar todo o espaço, do Sambódromo ao Pavilhão de Exposições, para checar as TVs e totens de informação. Assim como os dias anteriores, os dias seguintes foram recheados de muita entrega, resolução de problemas, improviso (que é a combinação de muita prática com um extenso repertório) e colaboração em seus estados mais cristalinos.

De um lado, organizar e ver uma competição contribuiu muito para meu trabalho com educação corporativa, Treinamento & Desenvolvimento. É fácil perceber como a educação profissional tem papel fundamental nos desafios do futuro do trabalho. Além disso, como o pensamento analítico, a criatividade e a comunicação são habilidades fundamentais — e continuarão a ser por um bom tempo.

Ao meu lado, as pessoas. Esse projeto só foi possível e legal por conta da turma que habitava o escritório do Comitê Organizador e que se apoiou tremendamente durante os dias no Anhembi. O SENAI conseguiu juntar pessoas incríveis, com diferentes histórias e culturas. Sinto saudade das amizades que fiz e que foram muito além do escritório. Os almoços, happy hours, perrengues, longas reuniões, os registros que fiz do dia a dia de trabalho moram para sempre em minha memória.

Três momentos de companheirismo são especiais. Dois deles, quando já estávamos no Anhembi. No primeiro, em 7 de agosto, fui chamado para uma reunião no final do dia. Quando cheguei, percebi que a reunião era uma desculpa para cantarem parabéns, desejarem feliz aniversário e comerem um bolinho comigo. Dois ou três dias depois, tive a mãe das infecções estomacais e fui assistido com muito carinho pelos amigos e colegas. O terceiro momento aconteceu em setembro, quando grande parte do escritório seria desmobilizada. Fizemos uma bela festa, com premiação simbólica, muitas risadas e abraços.

Trabalhar com o secretariado da WorldSkills, composto por pessoas na Austrália, Canadá, Suíça, Alemanha, Finlândia e afins, foi uma escola e uma gentil lembrança de que consigo ir muito além do que eu acreditava. Na prática, vi e entendi como um grupo de 20 pessoas consegue trabalhar de maneira remota, em diferentes fusos horários e de maneira tão coordenada para entregar um evento dessa magnitude. E como essas 20 pessoas viram 150 durante a competição, quando o Secretariado Estendido — os voluntários da WorldSkills — chegam para ajudar. Tive a oportunidade de fazer parte desse time nas duas competições seguintes, em Abu Dhabi e Kazan, e posso ser em todas as outras.

Dez anos depois, relembro com o mesmo encantamento aqueles dias no Ibirapuera e no Anhembi. E sigo um firme defensor da colaboração, da gentileza e da criatividade como motores nos projetos, organizações e na vida.

Jam Sessions & Colabs – Ep. #10 – Luis Sartori do Vale

 

Depois de um longo inverno, o Jam Sessions & Colabs está de volta com o episódio para fechar a primeira temporada. E nada melhor do que fazer isso conversando com um amigo de longa data!

Bati um papo com o Luis Sartori do Vale, artista de circo e artista visual. Ele está morando na Europa há 20 anos, é co-fundador da Portmanteau, companhia de circo contemporâneo e pai do Levi. Seus espetáculos já rodaram o mundo e colocam diferentes formas de arte sob a mesma tenda: arco e flecha, revelação analógica e por aí vai.

Falamos sobre circo, processo criativo, improvisos, música, experimentação, parentalidade… Foi muito legal poder aprender sobre circo contemporâneo, ouvir a história e a trajetória de um artista multidisciplinar (algo que me deixava boquiaberto na escola!) e ter a convicção de que a colaboração nos leva mais longe.

Serviu para conectar algumas ideias que guiarão a segunda temporada desse espaço.

Pimmiö – Divulgação – Foto: André Baumecker.

 

PYYKKI Lost in Laundryland – Divulgação – Foto: Luis Sartori do Vale

O Luis recomenda que a gente assista dois espetáculos do James Thierrée: “Compagnie du Hanneton” e “la veillée des abysses“.

 

Notas do Episódio

 

 

Jantar dos sonhos

Recentemente, os irmãos Hank e John Green perguntaram aos assinantes da sua newsletter quem seriam as cinco pessoas convidadas em um jantar dos sonhos. As respostas vieram na edição da última sexta-feira e são muito legais, num misto entre familiares, professores e famosos.

Eu gosto dessa pergunta, porque nos convida a refletir sobre presença, experiência, referências. Certa vez, foi tema de um check-in que conduzi em uma reunião de trabalho e os resultados foram igualmente legais.

Percebi que minha lista muda um bocado. E inspirado – e extrapolando – em um texto que vi na newsletter do Austin Kleon, resolvi compartilhar as três (e não cinco) pessoas que convidaria para um jantar.

O texto é o seguinte:

“Perguntada sobre quais escritores ela convidaria vivos ou mortos para um jantar, Cressida Cowell respondeu: “Você tem que convidar os mortos. Embora uma das muitas coisas maravilhosas sobre a leitura seja que é isso que você já está fazendo. Você está jantando com pessoas que morreram, às vezes centenas ou mesmo milhares de anos atrás, e cujas vozes, sentimentos, inteligência e opiniões estão todos capturados na tecnologia extraordinariamente brilhante e insubstituível que é um livro. (Como Auden disse, a arte é “nosso principal meio de partir o pão com os mortos, e acho que, sem comunicação com os mortos, uma vida plenamente humana não é possível”.)”

Sobre o jantar, esse seria com pessoas famosas e que já não estão mais entre nós.

Queria ouvir Prince, Marie Curie e Paulo Freire conversando sobre as similaridades e diferenças sobre ciências, artes, humanidades, esse mundão doido que estamos vivendo. Sobre como vencer barreiras e inspirar outras pessoas. Eu seria o comensal caladão, embasbacado e hipnotizado por essa conversa.

E para entrar na brincadeira, quem seriam as três pessoas famosas e falecidas que vocês convidariam para jantar?

A música não é descartável

Para começar, um pouco de contexto. Faz umas duas semanas que “redescobri” o Living Colour, banda de hard rock formada nos Estados Unidos em 1985. A redescoberta veio muito por conta do Leandro Duarte, que me encaminhou a incrível apresentação da banda no Tiny Desk Concert.

Empolgado pela apresentação no Tiny Desk, corri para ouvir o “Vivid“, disco de estreia da banda e lançado em 1988. Uma mistura de heavy metal com funk rock absolutamente incrível. Inclusive, “Cult of Personality” e “Glamour Boys” dizem muito sobre a vida de aparências e “verdades” que vemos nas redes sociais.

Aí, achei esse trecho de uma entrevista do vocalista Corey Glover, que é praticamente uma declaração de amor para a música. Ele diz que “a música está sempre conosco porque é a referência de como estamos nos sentindo, quando aprendemos ou vivemos alguma coisa”. Em seguida, propõe um  exercício: lembrar da música que você ouviu quando se apaixonou, quando você descobriu algo sobre você, quando seus filhos nasceram, quando você conquistou alguma coisa… música não é descartável.

 

Pra mim, soou como um convite. E, indo para o trabalho, lembrei…

… de “Fora da Ordem” do Caetano Veloso, no primeiro show que assisti na vida, no Palácio da Artes em 1992.

… de quando eu morria de medo do monólogo do Vincent Price em “Thriller”, aos seis ou sete anos de idade.

… de quando a Carol me mandou “I Melt with You” logo no comecinho do namoro.

… de cantar mentalmente “Isn’t she Lovely” do Stevie Wonder no nascimento do Samuel.

… de como o disco “Hello Rockview” do Less Than Jake foi o meu apoio na transição da adolescência para a vida adulta. (Escrevi sobre isso em 2012).

… e de como “1999” do Prince foi o meu apoio nos primeiros meses morando em São Paulo.

A lista vai e vai. Acho que faz sentido compartilhar isso porque 1) é importante colecionar e compartilhar referências; e 2) é legal começar a semana com um pouco mais de otimismo. Música não é descartável e é uma forma linda de saber mais sobre as pessoas e de praticar a curiosidade.

Por isso, adoraria saber quais são as músicas que são a trilha sonora dos momentos mais importantes da sua vida!

Curiosidade

 

No domingo, estávamos na comuna familiar entre Itabirito e Nova Lima quando Samuel pediu pra brincar com a Fuji. Pegou, colocou os dois olhos no visor e fez essa foto.

O primeiro registro feito pelo jovem que adotou “papai, qui tá fazendo?” como frase preferida.

Não canso de falar que essa curiosidade é uma das coisas que mais me cativa no Samuel. A forma como ele olha para as câmeras, primeiro posando e agora tentando entender como funciona, me derrete.

Recentemente, coloquei um filme novo na minha Holga (na foto abaixo, ele se diverte com a câmera ainda sem filme). E minutos antes dele me fotografar, fiz um registro dele com essa câmera de plástico. Ele correu para ver o resultado e ao perceber a ausência de telas, disse num misto de curiosidade e incredulidade: “não tem neném”.

Não tem agora, gatinho, mas teremos quando o filme for revelado. Eu também estou na expectativa para saber o resultado da foto.

E fico encantado te vendo crescer e descobrir o mundo.

A facilitação gráfica.
A facilitação gráfica.

Facilitação Gráfica

Muitas vezes, desenhar com o Samuel é quase como fazer um curso expresso de facilitação gráfica.

Se você não sabe, facilitação gráfica são aqueles esquemas visuais com desenhos e palavras usados para representar ideias de forma rápida, enquanto elas vão surgindo. Vemos muito disso em palestras, por exemplo, e também aqui em casa.

Quando desenhamos juntos (“papai, vem desenhar!”), o único momento previsível é quando puxo o banquinho pra perto da torre de aprendizagem ou pra frente da geladeira. Depois disso, é 100% no improviso, respondendo aos pedidos do rapaz e criando em conjunto. Outro dia, estávamos desenhando no quadro da geladeira, cada um com sua canetinha. De repente:

— Papai, desenha o neném…
— … andando de moto…
— de capacete!

(ele faz seus desenhos e rabiscos)

— Escreve “mamãe!”…
— …”papai!”…
— …”neném!”…
— …”jacaré!”!

(Faz mais desenhos)

— Agora faz um trator…
— …na terra!…
— …puxando um carro de polícia!

Ele se deu por satisfeito, levantou-se e foi fazer outra coisa.

O resultado final foi esse:

A facilitação gráfica.

A colaboração entre um rapaz de um ano e dez meses e um pai de quase 43 anos, recheada de descobertas, traços e abstrações.

A minha curiosidade é muito ampla e eu gostaria de ser muita coisa que não posso. Por isso, vou experimentando fragmentos de tudo”
A minha curiosidade é muito ampla e eu gostaria de ser muita coisa que não posso. Por isso, vou experimentando fragmentos de tudo”

Estou curioso sobre a curiosidade

A minha curiosidade é muito ampla e eu gostaria de ser muita coisa que não posso. Por isso, vou experimentando fragmentos de tudo”

 

“A minha curiosidade é muito ampla e eu gostaria de ser muita coisa que não posso. Por isso, vou experimentando fragmentos de tudo”.

Me derreti por essas aspas do Gilberto Gil. Essa declaração de amor para a curiosidade entrou na extensa lista de motivos para amar esse homem. Não me deveria causar espanto saber que um dos maiores artistas vivos é uma pessoa curiosa. Mas não é todo dia que vemos uma manifestação tão explícita de algo que é essencialmente humano e comum.

Muitas vezes, usamos a palavra “curioso” de forma pejorativa. Se alguém faz perguntas demais, ela é “curiosa”. Situações ou pessoas “não convencionais” também são “curiosas”. Precisamos reforçar o contrário, a curiosidade carrega uma certa nobreza. Tem a ver com questionar, descobrir, perguntar, explorar…

Vejam as crianças. Sendo pai, o trecho “vou experimentando fragmentos de tudo” ganha outra camada de importância. A experimentação está na rotina diária do Samuel. Ao mesmo tempo que fico alerta sobre os riscos, vibro cada vez que ele investiga alguma coisa e solta um “Ó!” quando faz uma descoberta.

Ao mesmo tempo, me sinto tentado a sempre falar “o que você está fazendo, menino?” quando vejo a curiosidade infantil ultrapassando limites, tipo ver seus pijamas dentro do cesto de lixo de fraldas, simplesmente porque ele descobriu como funciona o mecanismo de abrir e fechar a tampa e resolveu experimentar.

Olho pra ele e olho pra mim, porque eu também observava as coisas, fazia perguntas (muitas), abria equipamentos, bloqueava (sem querer!) o rádio do carro, quando era criança.

Tudo para entender como as coisas funcionam, como elas são feitas, porque são o que são. Como disse o baterista e produtor Questlove nessa entrevista, “quando converso com músicos, não me interessa o produto final. Quero saber como a música foi feita”.

A curiosidade, na minha visão, anda muito junto com o processo criativo, com método científico, com o pensamento crítico, com a investigação…

E vejam, não é só a arte que precisa de gente curiosa. O Fórum Econômico Mundial, na edição 2025 do Future of Jobs Report, traz a curiosidade como uma das habilidades mais relevantes nos dias atuais. E ela será uma das habilidades que mais irá crescer até 2030.

Em um mundo cada vez mais incerto, onde precisamos lidar com informações incompletas, cenários incertos e em ritmo acelerado, a agricultura, a tecnologia digital, cuidados com saúde, automação e muitas outras indústrias precisarão de gente curiosa.

Enquanto escrevia esse texto, uma coisa me veio à cabeça: seria legal saber o que mentes brilhantes pensam sobre a curiosidade. Por isso, pedi para que algumas pessoas respondessem às duas perguntas abaixo. São pessoas que tenho profundo apreço, que me inspiram, são fontes de aprendizado e são curiosas:

  • O que é curiosidade para você?
  • No seu contexto diário, seja no trabalho, nos estudos ou no cotidiano, por que devemos desenvolvê-la e aplicá-la?

Espero que essas aspas do Gil e as respostas abaixo te ajudem a manter a sua curiosidade em dia!

Por Natália Menhem

Curiosidade é uma fagulha interna que me leva a pensar: “e o que mais?” O que mais tem para saber e para descobrir? O que mais cabe em cada resposta ou possibilidade? O que mais pode ser diferente da realidade dada? O que mais existe para além do que eu já sei?”. Essa fagulha é o que nos permite expandir nossos horizontes, sair do ensimesmamento e da repetição sem questionamento.

Sem curiosidade, rapidamente viramos máquinas que repetem o que viram, ouviram ou estão acostumadas a fazer, sem se questionar se a forma de viver, estar e pensar o mundo pode ser diferente. Se a gente se incomoda com o estado das coisas, é imprescindível deixar a curiosidade aflorar para que possamos acessar outras formas de estar o mundo e ver outras possibilidades de existir.

Natalia Menhem é minha irmã, cientista social, poeta, arteterapeuta, estrategista de comunicação corporativa e mãe de gêmeos.

Por Edu Valladares

Pra mim, a curiosidade se manifesta como uma coceira intelectual, uma pulsação incessante que não permite que a mente se contente com o óbvio. é a chama que nos impulsiona a desvendar o que está por trás da cortina, a questionar o “porquê” e o “como” de tudo, desde a complexidade do universo até o funcionamento de um simples parafuso. no caso, não se trata apenas de um desejo de aprender, mas sim uma insurreição contra a complacência. É a nossa voz interna que sussurra: “Mas e se…?”. Então, acaba sendo uma força que nos tira da zona de conforto do que já sabemos para nos lançar no terreno fértil do desconhecido, onde o aprendizado não é uma tarefa, mas uma aventura emocionante. É o que transforma o tédio em fascinação e a ignorância em um ponto de partida para a descoberta.

Acredito que desenvolver e aplicar a curiosidade não é apenas uma virtude; é uma estratégia de sobrevivência e um catalisador de oportunidades.

Enxergo a curiosidade como a nossa “antena parabólica” pessoal para o futuro. Enquanto a maioria se contenta com as frequências familiares do presente, a curiosidade nos sintoniza com os sinais fracos e emergentes do que está por vir. De certa forma, nos permite participar ativamente da construção das próximas grandes ideias, das soluções inovadoras e dos caminhos ainda não trilhados.

No trabalho, ela nos tira do piloto automático, transformando tarefas rotineiras e simples em desafios de otimização e nos impulsionando a questionar “existe uma maneira melhor?”.

Nos estudos, ela transcende a mera memorização, transformando a aprendizagem em não apenas absorver informações passivamente, mas de dissecá-las, questioná-las e recombiná-las, construindo um conhecimento orgânico e profundamente enraizado, que se adapta e cresce.

E, no cotidiano, a curiosidade é o que nos mantém vibrantes e presentes, mesmo reconhecendo que, pra isso, precisamos desenvolver nossa habilidade de aprender com vulnerabilidade, o que chamo de Aprendabilidade.

Edu Valladares é designer de aprendizagem e professor. Autor dos livros “CRIAWAY” e “Como Aprender Melhor”.

Por Leandro Duarte

A cada nova incursão em que a curiosidade me enfia, eu aprendo uma nova atividade humana, desde as mais abstratas até as mais materiais. E isso traz uma perspectiva completamente nova de como uma atividade qualquer funciona, de como a mente e o corpo humano funcionam, da importância do tempo, das habilidades, da aprendizagem, do engajamento, da vontade, da resiliência.

Ao mergulhar numa nova atividade humana, da brassagem de cerveja à pesquisa científica, de tocar bateria a criar uma filha, de desenhar uma experiência a trocar a resistência do chuveiro, eu me vejo no lugar de outras pessoas, me enxergo no grande contexto, identifico meu tamanho na ordem geral das coisas, percebo a dificuldade de alcançar a excelência em cada um desses interesses diferentes e concordo cada vez mais com os fragmentos do Gil.

Leandro Duarte é comunicador, designer de experiências e sócio da Nuts.

Por Paula Basques

Curiosidade para mim tem a ver com uma frase que meu pai sempre falava (um curioso como você descreveu de mão cheia!): “saber não ocupa espaço”. Cresci ouvindo isso e sempre que tenho a oportunidade adequada uso a mesma frase. Em tempos em que diferentes conhecimentos sabiamente conectados e aplicados à prática são um diferencial na vida pessoa e profissional. Também acredito que curiosidade tem a ver com tentativa e erro. Um exemplo meu a respeito disso: em algumas demandas, preciso de imagens para apresentações que faço em clientes, se não encontro pronta, nas inúmeras tentativas e erros em IA geradoras de texto, descobri que se usar a descrição de imagem que o DeepSeek gera e pedir a imagem para o Gemini, pode funcionar bem. Sim, eu sei que existem IA que geram imagens, mas a minha curiosidade me levou a encontrar uma solução alternativa.

No trabalho, entendo que ser curioso com foco em aprendizagem e ganho de conhecimento é uma vantagem competitiva para a carreira e possibilidade de crescimento da atuação profissional. Mas, é preciso entender que o foco não é exclusivamente crescer na hierarquia, mas sim, ser reconhecido pela capacidade de gerar soluções criativas para diferentes situações e demandas.

Paula Basques é Consultora em Desenvolvimento Organizacional e Especialista em Reestruturação do Design Organizacional e Gestão Estratégica de Pessoas.

A mancha branca é (era) o tumor em formato de elipse.
A mancha branca é (era) o tumor em formato de elipse.

Quatro anos

Em 3 de maio de 2021, minha cabeça foi aberta para retirar um tecido tumoral de 5,5 cm x 4,4 cm x 3,1 cm. A biópsia mostrou que tratava-se de um astrocitoma de baixo grau com mutação do IDH 1. Foi uma cirurgia que se estendeu até pouco depois da meia noite do dia seguinte. Dois dias depois, abri a cabeça de novo para retirar uma rebarba desse tecido. Tive alta no quinto dia de hospital. Não precisei de nenhuma terapia adjuvante, seja quimio ou rádio. Só domava a minha claustrofobia nas ressonâncias magnéticas que eram trimestrais, depois quadrimestrais e então, semestrais.

Escrevi muito sobre esse processo, dos sintomas às cirurgias, aqui no blog. E o fato de ter escrito esse tanto não significa que não há mais o que dizer. Sempre há.

Na semana passada, em mais uma consulta de rotina, fui informado de que as minhas ressonâncias agora serão anuais. E pela primeira vez, ouvi e li a palavra “remissão total”. Fiquei feliz. Na época do diagnóstico e da cirurgia, imaginava que não precisaria fazer mais planos, porque a vida iria acabar. Foi duro imaginar que não iria cruzar essa ponte.

Quatro anos depois, fiz um bocado de planos, pus alguns deles pra frente e sinto que posso planejar e fazer mais. Acho legal e divertido contar do papo que eu bati com o anestesista sobre propofol segundos antes de ser sedado e de como é ser acordado no meio de uma cirurgia dessas. Fico feliz em saber que o vídeo que gravei para o canal Terminal, da querida Dani Louzada, ajudou algumas pessoas.

E não tem um dia que eu não penso nas pessoas. Sempre leio as mensagens que recebi no grupo de whatsapp que foi nossa central de notícias. Tanta gente que acompanhou esse capítulo da minha vida. e que sofreu junto, torceu, orou e celebrou comigo.

Ao mesmo tempo, todos os dias eu lembro do Miguel Thompson e do Bruno Guedes, amigos também acometidos por tumores cerebrais e que partiram cedo demais. Penso que posso ser um ouvido e um abraço amigo para aquelas pessoas que estão passando ou conhecem quem passa pelo que passei.

Porém, sinto o local da minha cirurgia toda vez que eu penso em “tempo”. Quanto tempo me resta? Quanto tempo isso (que pode ser qualquer coisa) vai demorar para ser feito? Vou conviver com o Samuel o tanto que meus pais convivem comigo?

Sinto medo e angústia quando percebo que a retirada do tumor não levou junto o dilema da comparação, o receio em me posicionar, em emitir opinião com medo de estar errado (ou certo), a distração.

Entendo que não é errado pensar sobre os dois últimos parágrafos. Porém, sinto que não deveria dar tanto espaço para esses pensamentos, especialmente porque me deixam parado, quando devemos estar sempre em movimento.

Nisso, lembro da mensagem que recebi do meu tio-avô Simão, logo quando tive o meu diagnóstico. Ele era irmão da vovó Teteca, tio da mamãe e um homem absolutamente criativo, talentoso e contador de histórias e que faleceu há pouco mais de dois meses. Compartilho abaixo:

“Flíper”, meu “boto” sobrinho neto. Um homem talentoso, gentil, e em pleno andar nesta vida cheia de surpresas. Agache, pegue esta pedra com as duas mãos e a coloque ao lado do caminho para que ela não te assuste mais no retorno da sua caminhada. E, na volta, ao revê-la, você vai perceber que antes ela te gerou muita agonia mas que nesta hora você perceberá que ela não demandava tanta preocupação. O melhor da festa é esperar por ela. E a festa acontece e passa. O pior da cirurgia é o medo que ela causa , até que você opere e se restabeleça. Tenha calma e fé. Isto só vai enriquecer a sua biografia. Um beijo, relaxa e boa caminhada🌹

Li essa mensagem novamente na semana passada e fez um sentido tremendo. Há quatro anos, peguei essa pedra com as duas mãos e coloquei na margem da estrada. Ela me gerou agonia, enriqueceu a minha biografia. Me reestabeleci. Para a velhice que vou, preciso aprender a não ocupar tanto a cabeça com as preocupações que me tornam estático.

Não é fácil, mas o caminho se faz é caminhando.

SXSW 2025

Colocando no blog para a perenidade, um registro sobre o SXSW 2025, contando sobre a jornada Oddly e Flash e algumas reflexões sobre o futuro do trabalho.


A sétima ida à Austin para o sexto SXSW começou de forma inusitada, com um convite do Walter Romano e do Tiago Pereira, as mentes por trás da Oddly Experience para dar apoio à jornada de Executivos de RH feita com o patrocínio da Flash.

Walter Romano e Tiago Pereira.

Walter Romano, o Walteen, é uma das pessoas mais generosas, criativas e legais que eu conheço. Já são quase 25 anos de amizade, desde que entrei na Lazo para a minha primeira experiência profissional, um desenvolvedor web. Um diálogo que tivemos em 2003 sobre cheiro do espirro é um dos posts mais comentados do blog. Finalmente, foi ele quem me apresentou o SXSW, tema da edição 26 do Ainda Sem Nome, o podcast que produzi com o Caio Oliveira por muitos anos.

O Tiago Pereira foi colega de trabalho do Walteen na Petrobrás e nos conhecemos em um Download, os eventos pós-SXSW, feito no Rio de Janeiro em 2018. Há três anos, ele é o anfitrião de um meet up de profissionais de RH no SXSW, que é um sucesso de público e crítica. Uma pessoa inteligente, sagaz, de papo reto e também generosa.

A amizade com Daniel Rocha, o Ceió, também é um presente da Lazo em 2003. Pela segunda vez, a família Vigil-Rocha (Daniel; Susana; Clara; Tony, o daschund e Amy, a gata) me hospedaram na cidade. Minha agenda estava um pouco mais caótica comparada com 2023, então não pude ser o melhor e mais presente dos hóspedes. Pena pra mim, porque é sempre uma alegria estar cercado de gente querida.

No festival, minha missão era ajudar na curadoria de conteúdo e orientação para parte do grupo que composto por 15 executivos e executivas de RH, muitos indo pela primeira vez. Antes da viagem, conversei e ajudei na construção da agenda de sete pessoas. Em Austin, ajudei no processo de descoberta do festival e da cidade e pude aproveitar os momentos em grupo para fazer aquilo que é a grande gema do SXSW: poder ouvir as impressões e pontos de vista das pessoas sobre os conteúdos assistidos.

E falando em conteúdos, esse ano, o meu olhar estava focado em duas coisas. A primeira eram as discussões sobre futuro do trabalho, tema que dividi com o Tiago no Report da Jornada Flash. A segunda, qual é importância da criatividade e de outras habilidades humanas em tempos de Inteligência Artificial. Isso tem a ver com o Círculo Musical da Construção de Soluções.

O que pensei sobre o futuro do trabalho

Me toquei que estamos imersos em uma grande mudança, que é a forma como nos relacionamos com o trabalho enquanto sociedade, e como essa mudança irá se acentuar. Começa com um ponto super importante, que é a diminuição e o envelhecimento da população global.

No Brasil e nos Estados Unidos, a taxa de natalidade está em 1,62 filhos por mulher. O número para manter a população estável seria 2,1. Nos Estados Unidos, sem imigração, isso significa uma queda de quase 80 milhões de pessoas nas próximas décadas.

Esse cenário afeta diretamente o mercado de trabalho: menos gente entrando, mais gente envelhecendo e uma necessidade urgente de repensar quem trabalha, como trabalha, e por quê. Nesse ponto, gostei da sessão “No Degree? No Problem. Challenging Enduring Talent Myths”, porque trouxe luz para novas formas de contratação, com foco em habilidades, não em diplomas.

As organizações também enfrentam desafios em relação à Geração Z, que tem um novo olhar sobre o trabalho e o sistema capitalista. Só 22% deles dizem confiar no modelo capitalista tradicional e questionam o valor do trabalho dentro de um sistema que nem sempre entrega bem-estar. Uma pesquisa recente mostra que 72% dos Gen Z querem ser seus próprios chefes, e mais de 70% já têm uma renda paralela além do emprego fixo.

Se antes o trabalho era o centro da vida, como uma calota de carro que tudo gira ao redor, agora ele se tornou mais uma fatia da pizza. O trabalho precisa fazer sentido, mas também precisa caber na vida — e não o contrário.

Como tomar decisões e encarar esse cenário de incertezas muitas vezes com informações incompletas? Como olhamos para o futuro e quais são as ferramentas que a gente pode usar para construir cenários?

Eu gosto muito da matriz Cynefin, feita pelo pesquisador David Snowden. É uma tentativa de dar sentido aos “múltiplos fatores em nosso ambiente e em nossa experiência que nos influenciam de maneiras que nunca poderemos entender”. Ela era citada nas formações que fazíamos no Centro Lemann com lideranças educacionais de 66 cidades do Brasil. Era legal ver o olhar de desconfiança virar um olhar de curiosidade.

Em sua sessão, Maggie Jackson trouxe duas definições de incerteza. Temos a incerteza aleatória, a incerteza do mundo — as variáveis externas, imprevisíveis, que fogem ao controle humano, e a incerteza epistêmica, a incerteza interna — nossa resposta psicológica ao desconhecido.

Nos dois casos, só conseguimos entender e navegar na incerteza se nutrirmos a curiosidade. Fazer perguntas do tipo “Por quê?”, “E se…?” “E se o contrário também for verdade?”. Podemos usar essas perguntas para expandir o entendimento de uma situação, pra superar vieses e automatismos e para abrir caminhos para a adaptação e inovação.

Faça a pergunta certa e aí a tecnologia vem depois“, como John Gauntt e Kate Baucherel falaram em “The Futurist Toolkit: Building a Business Strategy for 2050“. Em determinado momento, Gauntt em sua sessão, a tecnologia pode prever, mas é o mundo real — com sua aleatoriedade — que decide o desfecho.

Fiquei feliz em ver o Rishad Tobaccowala também trazendo a analogia de que as organizações precisam ser menos parecidas com orquestras, com alguém regendo pessoas extremamente ensaiadas, e mais parecidas com quartetos de jazz, mais fluídas e com diferentes pessoas levando a música para lugares inesperados.

Ou seja, as organizações precisam descobrir como fazer a contratação por habilidades funcionar. Afinal, em 2022, mais de um terço dos trabalhadores norte-americanos equilibrava mais de um trabalho ao mesmo tempo, sendo que dois terços dessa população tinham menos de 30 anos. Também é preciso repensar a atração de talentos, tanto para os jovens quanto para as pessoas mais velhas.

Ao mesmo tempo, precisamos manter a curiosidade e a criatividade sempre afiadas, porque o futuro do trabalho exige (re)qualificação constante. Você vai ouvir falar bastante sobre o conceito de “skill flux“, trazido pelo futurista Ian Beacraft, onde as habilidades têm um prazo de validade cada vez menor. Uma resposta para esse prazo curto é o surge skilling, ciclos mais curtos de treinamento de habilidades que têm aplicação imediata nas organizações. Este post da Michelle Schneider explica bem os dois conceitos.

E falando sobre as pessoas

O ano de 2017 foi o ano do meu segundo SXSW. Naquela edição, eu, Marcos Arthur, Marina Assis, Fabrício Vitorino e Estevan Paiva ficamos no mesmo quarto no finado e saudoso (?) Drifter Jack’s Hostel. A melhor parte dessa experiência eram as resenhas nos cafés da manhã e happy hours, onde discutíamos o que havíamos visto, compartilhávamos as experiências e causos.

Em 2025, tive a sorte de fazer isso com pessoas que eu conheci ao longo da Jornada Flash e rever amigos de outros carnavais. Após um 2024 conturbado, poder conversar, refletir e dar risadas com as pessoas do carrossel abaixo, me deixou energizado para continuar seguindo em frente.