Outro dia, lia “Meu Primeiro Dicionário” com Samuel. No verbete “Automóvel” apontei para um carro de polícia e perguntei o que era.
— Carro de polícia!
Depois, apontei para uma ambulância e fiz a mesma pergunta.
— Ambulância!
Finalmente, foi a vez do guincho. Ele pensou e disse:
— Não sei!
Ouvir isso me encheu de alegria. Sei que parece papo de pai babão (e talvez seja!), mas ouvir essas duas palavrinhas me fez pensar na curiosidade e nas descobertas. Por outro lado, também me fez pensar que eu deveria ter falado mais “não sei”, especialmente na adolescência e no começo da vida adulta. O medo da rejeição e de ficar fora de algum grupo me “obrigava” a falar “claro que conheço”, sem saber nada daquele tema.
Quando ele fala “não sei”, seja de forma confiante ou tímida, minha reação é reforçar que não saber é normal. E é um convite para o aprendizado e a exploração.
Como disse meu querido amigo Walter Romano em sua última coluna (e que inspirou esse texto), “Saber dizer ‘eu não sei’ não nos torna menos inteligentes. Nos torna mais verdadeiros e vulneráveis para nos conectarmos uns com os outros”.
Que o Samuel cresça tendo isso em mente. E quisera eu ter assimilado isso bem mais cedo na vida.
O dia das crianças me faz reforçar a observação do construtor de dois anos que mora lá em casa.
“As crianças aprendem brincando”, disse o compositor Brian Eno em uma entrevista para o Ezra Klein (e que será esmiuçada em breve). “Elas estão aprendendo sobre materiais, relações pessoais, sobre suas mentes e seus corpos. Coisas que são importantes de se entender”.
Olho para o Samuel brincando, curioso e mantendo seu olhar fresco.
Para ele, as coisas não precisam ter escalas. Os brinquedos de montar servem para qualquer finalidade: viram uma garagem, uma casa, um volante de carro. Três peças viram uma caminhonete e não é preciso que rodas existam para isso. O puff da sala vira a mesa de ping-pong e ele, muito educadamente, cumprimenta e deseja um bom jogo antes das partidas.
Falando sobre volantes, duas almofadas no sofá viram um carro. Quando estou deitado e com os joelhos dobrados viro um caminhão de lixo, um caminhão reboque ou uma ambulância. Ele abre a porta (meus braços), coloca o cinto, liga o carro e começa a dirigir.
Os livros são páginas de exploração e a rua vira uma extensão dos livros. Cada pedacinho novo compõe a descoberta de um mundo que está em constante expansão na sua cabecinha.
Observar isso serve de reforço para mantermos esse espírito curioso. Sonho com a ideia de como seria incrível se todas as crianças tivessem essas oportunidades de descobrir, aprender e construir futuros.
Nas rotinas diárias do Samuel, o banho da noite fica comigo. É um ritual divertido. Vamos para o banheiro, ele fica em pé na bancada da pia, seguro ele para escovar seus dentes enquanto ele usa meu braço para tocar um violão imaginário.
Depois, o banho acontece ora na banheirinha, ora no chuveiro. Eu, ele e algum(ns) brinquedo(s) como companhia: um boneco de lego, uma caminhonete, um livro, cada dia um artefato diferente. Batemos papo, damos risadas e até fazemos reflexões.
Foi o que aconteceu outro dia. Durante o banho, brincávamos com a companhia do dia, uma bolinha de basquete. Entre as brincadeiras e o ofício de ensaboar seu corpinho, eu comecei a divagar.
Fui longe enquanto limpava suas costas: pensei em trabalho, em arte, em dilemas, soluções, angústias e ideias. Se existisse o prêmio de costas mais limpas de uma criança de dois anos, ele seria do Samuel. Depois de uns dois minutos, eu aterrissei e falei: “Filho, desculpa. Fiquei em silêncio enquanto estava pensando em coisas”.
Ele olha pra mim e faz a primeira pergunta fundamental: “Aonde?”
Eu dou uma risada. fico meio desarmado e respondo: “Onde eu estava pensando? Aqui, dentro da minha cabeça”.
– Cadê?
“Aqui, meu amor”, apontando pra minha cabeça, enquanto brinco com a cabeça dele e sigo no limpeza com um sorriso. “Isso aqui é a nossa cabeça”.
Dica de parentalidade de/para uma pessoa com gagueira (meu caso).
Sempre que preciso dar uma ordem, um aviso ou ter uma conversa séria com o Samuel, praticamente preciso usar a norma culta da língua.
Ou seja, nada de “num mexe aí, senão cê se machuca”, porque eu travo logo na primeira palavra, como um disco arranhado.
Então digo: “não mexa aí para não se machucar”, prestando atenção às sílabas. O mesmo vale para convites para o banho, um aviso sobre a troca de fralda e assim por diante.
Não sei a razão, mas de alguma forma o cérebro manda o comando certo para a boca. Sem gagueira e sem ansiedade.
Outro dia, a Carol me mandou este post da Misty Copeland contando sobre a primeira vez que dançou em um show do Prince. Misty é a bailarina principal do American Ballet Theater, uma das principais companhias de balé clássico do mundo. O Prince foi o Prince, um dos músicos mais completos, criativos e disruptivos da nossa era.
Misty conta que chegou em Nice (França) sem coreografia, sem ensaios, sem planos. Só tinha uma lista de músicas e uma orientação: “você vai abrir o show”. Subiu ao palco, começou a dançar e viu uma plateia sair do silêncio para a excitação. Em seu texto, ela diz que as pessoas ficaram empolgadas ao verem Prince no palco. A caixa de comentários diz o contrário, a excitação era por ela.
Abaixo, uma apresentação dos dois no programa Live on Lopez Tonight, em 2011.
“A capacidade de resolver o problema com os recursos disponíveis, ou como em um solo, pegar um outro caminho e depois voltar para a estrada principal”.
Prince sabia quem era a Misty Copeland e que ela seria plenamente capaz de entregar algo lindo no show. Mesmo fora da zona de conforto, Misty também sabia que conseguiria fazer o que foi pedido. O repertório amplo, as horas e horas de prática, e o suporte daquelas pessoas que dividem o palco são o alicerce para o improviso.
Muito além de apagar incêndios
Se eu lesse isso há alguns anos, ficaria incrédulo. Para mim, entendia a improvisação como uma forma “afobada” de resolução de problemas, “a única saída possível”. Por exemplo:
Em 2003, a luz acabou no meio de um show do Venal, minha banda da época. A maneira que encontrei para manter o público animado foi tocando o groove de “Baba Baby” da Kelly Key. A banda cantou alto para o público cantar junto. Funcionou.
Em 2014, descobri que iria conduzir uma reunião em outro idioma no momento que entrei na sala. Nunca havia liderado um encontro em outra língua que não o português. Fiz uma condução travada, protocolar e que só não foi horrível porque contei com a ajuda das pessoas presentes para fazer o trabalho. Também deu certo.
Tocar jazz foi o caminho que encontrei para perceber como o Improviso significa não somente uma forma de apagar um incêndio, mas também um mecanismo de experimentação, de expressão e de construção em conjunto. Entender isso foi fundamental para ressignificar alguns momentos da minha jornada e mudar minha forma de trabalhar, seja como músico e/ou também profissional de educação corporativa.
Outras definições de improviso
No livro “Something to Food About”, o baterista, produtor e diretor Ahmir “Questlove” Thompson entrevistou chefs de cozinha sobre processo criativo. Ali, Questlove conta que “os artistas de jazz tocavam as mesmas músicas noite após noite. A habilidade de achar variações sutis a cada noite, sem sacrificar a essência da música, foi o que os tornou grandes”. O improviso significa inovação incremental perante um mundo em constante mudança. (Falei desse livro aqui)
Um mundo em constante mudança também exige múltiplas habilidades. Em “Yes to the Mess: Surprising Leadership Lessons from Jazz“, o autor Frank J. Barrett afirma que as organizações precisam de um “grupo de especialistas diversos vivendo em um ambiente caótico e turbulento; tomando decisões rápidas e irreversíveis; altamente interdependentes uns dos outros para interpretar informações imperfeitas e incompletas; dedicados à inovação e à criação de novidades”. Isso é uma banda de jazz, na definição de Barrett.
Essa foi a primeira vez que vi um contraponto à frase do Peter Drucker, o guru da administração, que afirmava: “o líder empresarial do século XXI é como um maestro de orquestra que, seguindo uma partitura prescrita, extrai grandes performances de uma orquestra não necessariamente composta por grandes músicos”.
Dos palcos aos escritórios
No jazz, improvisar está nas regras do jogo: fazer um solo e experimentar novos caminhos e linguagens para isso. Vindo das experiências no pop, no rock e no blues, estar em evidência dessa forma não era algo comum para mim. Eu dominava os fundamentos essenciais: o suporte e o compromisso com as pessoas dentro e fora do palco. Porém, a rotatividade do papel de líder era a grande novidade.
Ser o solista significa fazer algo interessante, musical, que mantenha a banda e o público atentos e animados. Isso exige prática e repertório. Mas, se pararmos para pensar, não é tão diferente de uma reunião de trabalho, especialmente aquelas com muitas áreas envolvidas. É necessário estar preparado para a sua hora de falar. A diferença é que no palco, não há espaço para a desconexão com o grupo. A partir do momento que entrego meu solo (e o papel de líder) para outra pessoa, sigo atento para apoiá-la. Essa versão de “Windows” do Chick Corea, interpretada pela minha banda de jazz em São Paulo, mostra essas transições:
Improvisar também significa colaborar. Nos dois momentos, é preciso ter presença e intenção. Na falta desses elementos, o solo se perde e a banda se desarticula. Com esses elementos presentes, criamos vínculos de confiança e colaboração.
Improviso na prática
Pegue o que Frank Barrett disse e perceba como os ambientes de trabalho atuais exigem que estejamos improvisando a todo momento. O desafio é ter habilidades em nossa caixa de ferramentas que nos permite ficarmos confiantes para experimentar, inovar, ouvir opiniões e resolver problemas.
No aspecto pessoal, comecei a ficar confortável a partir de pequenos ajustes em minha prática:
No trabalho, comecei a anotar/roteirizar algumas falas, especialmente aquelas em grandes grupos, para manter a atenção das pessoas, coesão e clareza;
Nos solos de bateria, diminuí a economia e repetição de notas, criando variações para deixar o solo mais interessante a partir do momento que fiquei mais confortável com o papel.
Coletivamente, comecei a reconhecer e valorizar quando o Improviso apareceu. Seja participando de reuniões e projetos que envolviam áreas completamente distintas da organização, como as reuniões da WorldSkills; fazendo apresentações que exigiram ajuste de rota em tempo real no Centro Lemann, aprendendo e ouvindo com pessoas que têm pontos de vista bem divergentes dos meus nas reuniões de conselho que participo. A escuta, a presença e a colaboração sempre estiveram presentes para resolver problemas, desenhar soluções e gerar ideias a partir das informações disponíveis e do repertório dos presentes.
Na música, um exemplo ideal
Um dos melhores exemplos de tudo o que falamos está no vídeo abaixo. A banda do baixista Marcus Miller faz um cover improvisado de “Rehab”, canção clássica de Amy Winehouse. Na edição 2007 do festival holandês North Sea Jazz Festival, Miller e sua banda precisaram cobrir a ausência de Amy, que não pôde fazer o show. Algumas pessoas apareceram como convidadas: o DJ Logic, a saxofonista Candy Dulfer e o também saudoso trompetista Roy Hargrove. O resultado foi esse:
Observem como a música vai se desenvolvendo, com o público em êxtase, sem seguir uma estrutura rígida. São vários os momentos de construção:
Ao perceber que os metais aprenderam a estrutura da música, Marcus – que começa o show tocando clarone – joga a partitura no chão;
Ele estende os compassos de solo a partir de Roy Hargrove.
Já no fim do seu solo de baixo, Marcus sinaliza o final da música, mas a banda demora algumas notas para perceber. O erro não compromete em nada o resultado final.
Em pouco mais de seis minutos, aquelas pessoas construíram um momento incrível com os recursos disponíveis, pegaram vários caminhos para depois retornarem à estrada principal. Fizeram isso com tranquilidade, pelos mesmos motivos de Misty Copeland no começo do texto: repertório amplo, as horas e horas de prática e o suporte de quem estava dividindo o palco.
Há dez anos, em 11 de agosto de 2015, acontecia a Cerimônia de Abertura da WorldSkills São Paulo 2015, a maior competição de educação profissional do mundo.
O evento no Ginásio do Ibirapuera foi só o primeiro momento de adrenalina e emoção que também pautou os quatro dias seguintes de competição e mais a Cerimônia de Encerramento. Fiquei emocionado vendo a coreografia, a entrada das delegações e me lembro de estar ao lado do John Cox, Gerente de Operações e Sistemas de Informação da WorldSkills, que me contava as tradições daquele momento: “A Nova Zelândia faz o Haka. A Suíça entra com um grande sino”, e eu inaugurei uma própria tradição: chorar quando a delegação brasileira apontou. Era incrível pensar que estávamos entregando o que havíamos planejado.
E o glamour sempre andou acompanhado do trabalho. Depois da cerimônia, voltamos para o Anhembi. Subi para meu quarto no Holiday Inn, troquei de roupa e desci para rodar todo o espaço, do Sambódromo ao Pavilhão de Exposições, para checar as TVs e totens de informação. Assim como os dias anteriores, os dias seguintes foram recheados de muita entrega, resolução de problemas, improviso (que é a combinação de muita prática com um extenso repertório) e colaboração em seus estados mais cristalinos.
De um lado, organizar e ver uma competição contribuiu muito para meu trabalho com educação corporativa, Treinamento & Desenvolvimento. É fácil perceber como a educação profissional tem papel fundamental nos desafios do futuro do trabalho. Além disso, como o pensamento analítico, a criatividade e a comunicação são habilidades fundamentais — e continuarão a ser por um bom tempo.
Ao meu lado, as pessoas. Esse projeto só foi possível e legal por conta da turma que habitava o escritório do Comitê Organizador e que se apoiou tremendamente durante os dias no Anhembi. O SENAI conseguiu juntar pessoas incríveis, com diferentes histórias e culturas. Sinto saudade das amizades que fiz e que foram muito além do escritório. Os almoços, happy hours, perrengues, longas reuniões, os registros que fiz do dia a dia de trabalho moram para sempre em minha memória.
Três momentos de companheirismo são especiais. Dois deles, quando já estávamos no Anhembi. No primeiro, em 7 de agosto, fui chamado para uma reunião no final do dia. Quando cheguei, percebi que a reunião era uma desculpa para cantarem parabéns, desejarem feliz aniversário e comerem um bolinho comigo. Dois ou três dias depois, tive a mãe das infecções estomacais e fui assistido com muito carinho pelos amigos e colegas. O terceiro momento aconteceu em setembro, quando grande parte do escritório seria desmobilizada. Fizemos uma bela festa, com premiação simbólica, muitas risadas e abraços.
Trabalhar com o secretariado da WorldSkills, composto por pessoas na Austrália, Canadá, Suíça, Alemanha, Finlândia e afins, foi uma escola e uma gentil lembrança de que consigo ir muito além do que eu acreditava. Na prática, vi e entendi como um grupo de 20 pessoas consegue trabalhar de maneira remota, em diferentes fusos horários e de maneira tão coordenada para entregar um evento dessa magnitude. E como essas 20 pessoas viram 150 durante a competição, quando o Secretariado Estendido — os voluntários da WorldSkills — chegam para ajudar. Tive a oportunidade de fazer parte desse time nas duas competições seguintes, em Abu Dhabi e Kazan, e posso ser em todas as outras.
Dez anos depois, relembro com o mesmo encantamento aqueles dias no Ibirapuera e no Anhembi. E sigo um firme defensor da colaboração, da gentileza e da criatividade como motores nos projetos, organizações e na vida.
Depois de um longo inverno, o Jam Sessions & Colabs está de volta com o episódio para fechar a primeira temporada. E nada melhor do que fazer isso conversando com um amigo de longa data!
Bati um papo com o Luis Sartori do Vale, artista de circo e artista visual. Ele está morando na Europa há 20 anos, é co-fundador da Portmanteau, companhia de circo contemporâneo e pai do Levi. Seus espetáculos já rodaram o mundo e colocam diferentes formas de arte sob a mesma tenda: arco e flecha, revelação analógica e por aí vai.
Falamos sobre circo, processo criativo, improvisos, música, experimentação, parentalidade… Foi muito legal poder aprender sobre circo contemporâneo, ouvir a história e a trajetória de um artista multidisciplinar (algo que me deixava boquiaberto na escola!) e ter a convicção de que a colaboração nos leva mais longe.
Serviu para conectar algumas ideias que guiarão a segunda temporada desse espaço.
Pimmiö – Divulgação – Foto: André Baumecker.
PYYKKI Lost in Laundryland – Divulgação – Foto: Luis Sartori do Vale
Recentemente, os irmãos Hank e John Green perguntaram aos assinantes da sua newsletter quem seriam as cinco pessoas convidadas em um jantar dos sonhos. As respostas vieram na edição da última sexta-feira e são muito legais, num misto entre familiares, professores e famosos.
Eu gosto dessa pergunta, porque nos convida a refletir sobre presença, experiência, referências. Certa vez, foi tema de um check-in que conduzi em uma reunião de trabalho e os resultados foram igualmente legais.
Percebi que minha lista muda um bocado. E inspirado – e extrapolando – em um texto que vi na newsletter do Austin Kleon, resolvi compartilhar as três (e não cinco) pessoas que convidaria para um jantar.
O texto é o seguinte:
“Perguntada sobre quais escritores ela convidaria vivos ou mortos para um jantar, Cressida Cowell respondeu: “Você tem que convidar os mortos. Embora uma das muitas coisas maravilhosas sobre a leitura seja que é isso que você já está fazendo. Você está jantando com pessoas que morreram, às vezes centenas ou mesmo milhares de anos atrás, e cujas vozes, sentimentos, inteligência e opiniões estão todos capturados na tecnologia extraordinariamente brilhante e insubstituível que é um livro. (Como Auden disse, a arte é “nosso principal meio de partir o pão com os mortos, e acho que, sem comunicação com os mortos, uma vida plenamente humana não é possível”.)”
Sobre o jantar, esse seria com pessoas famosas e que já não estão mais entre nós.
Queria ouvir Prince, Marie Curie e Paulo Freire conversando sobre as similaridades e diferenças sobre ciências, artes, humanidades, esse mundão doido que estamos vivendo. Sobre como vencer barreiras e inspirar outras pessoas. Eu seria o comensal caladão, embasbacado e hipnotizado por essa conversa.
E para entrar na brincadeira, quem seriam as três pessoas famosas e falecidas que vocês convidariam para jantar?
Para começar, um pouco de contexto. Faz umas duas semanas que “redescobri” o Living Colour, banda de hard rock formada nos Estados Unidos em 1985. A redescoberta veio muito por conta do Leandro Duarte, que me encaminhou a incrível apresentação da banda no Tiny Desk Concert.
Empolgado pela apresentação no Tiny Desk, corri para ouvir o “Vivid“, disco de estreia da banda e lançado em 1988. Uma mistura de heavy metal com funk rock absolutamente incrível. Inclusive, “Cult of Personality” e “Glamour Boys” dizem muito sobre a vida de aparências e “verdades” que vemos nas redes sociais.
Aí, achei esse trecho de uma entrevista do vocalista Corey Glover, que é praticamente uma declaração de amor para a música. Ele diz que “a música está sempre conosco porque é a referência de como estamos nos sentindo, quando aprendemos ou vivemos alguma coisa”. Em seguida, propõe um exercício: lembrar da música que você ouviu quando se apaixonou, quando você descobriu algo sobre você, quando seus filhos nasceram, quando você conquistou alguma coisa… música não é descartável.
Pra mim, soou como um convite. E, indo para o trabalho, lembrei…
… de “Fora da Ordem” do Caetano Veloso, no primeiro show que assisti na vida, no Palácio da Artes em 1992.
… de quando eu morria de medo do monólogo do Vincent Price em “Thriller”, aos seis ou sete anos de idade.
… de quando a Carol me mandou “I Melt with You” logo no comecinho do namoro.
… de cantar mentalmente “Isn’t she Lovely” do Stevie Wonder no nascimento do Samuel.
… de como o disco “Hello Rockview” do Less Than Jake foi o meu apoio na transição da adolescência para a vida adulta. (Escrevi sobre isso em 2012).
… e de como “1999” do Prince foi o meu apoio nos primeiros meses morando em São Paulo.
A lista vai e vai. Acho que faz sentido compartilhar isso porque 1) é importante colecionar e compartilhar referências; e 2) é legal começar a semana com um pouco mais de otimismo. Música não é descartável e é uma forma linda de saber mais sobre as pessoas e de praticar a curiosidade.
Por isso, adoraria saber quais são as músicas que são a trilha sonora dos momentos mais importantes da sua vida!
No domingo, estávamos na comuna familiar entre Itabirito e Nova Lima quando Samuel pediu pra brincar com a Fuji. Pegou, colocou os dois olhos no visor e fez essa foto.
O primeiro registro feito pelo jovem que adotou “papai, qui tá fazendo?” como frase preferida.
Não canso de falar que essa curiosidade é uma das coisas que mais me cativa no Samuel. A forma como ele olha para as câmeras, primeiro posando e agora tentando entender como funciona, me derrete.
Recentemente, coloquei um filme novo na minha Holga (na foto abaixo, ele se diverte com a câmera ainda sem filme). E minutos antes dele me fotografar, fiz um registro dele com essa câmera de plástico. Ele correu para ver o resultado e ao perceber a ausência de telas, disse num misto de curiosidade e incredulidade: “não tem neném”.
Não tem agora, gatinho, mas teremos quando o filme for revelado. Eu também estou na expectativa para saber o resultado da foto.
E fico encantado te vendo crescer e descobrir o mundo.