Sobre Legos e construções

16 de janeiro de 2023
Posted in Divagações
16 de janeiro de 2023 Felipe

Sobre Legos e construções

Na noite de sábado, terminei a montagem da Eagle, o Módulo Lunar da Apollo 11, kit da Lego que foi o presente de Natal da Carol e que precisei dedicar algumas horas ao longo da semana. É o terceiro kit que ganhei de presente no último ano. O primeiro foi um Mclaren Elva, dado pela Tutu no natal do ano passado. Depois, esse Cosmic Cardboard Adventures (“Aventuras Cósmicas de Papelão”, em tradução livre), uma lembrança do Lee Magpili, designer da própria Lego, às pessoas que trabalharam na curadoria do Seminário SESI, em maio de 2022. Agora, foi a vez do Módulo Lunar.

Ao montar a Mclaren, fiquei impressionado com a quantidade de peças novas – em formatos e tamanhos – e também lembrando de como o Lego tem um espaço muito importante na minha infância, fisicamente e criativamente. No primeiro ponto, o meu quarto era meu mundo de Lego. Guardava todas as minhas peças em uma caixa de papelão que originalmente foi a embalagem para uma televisão de tubo de 29 polegadas. Imaginem o tamanho. Metade da caixa cheia de pecinhas, sem nenhuma organização. Achar peças era uma tarefa hercúlea. A busca por um tijolinho azul de 1×1 no meio de tantas peças maiores ou quatro rodas iguais demandava tempo e também abria espaço para a criatividade.

Mclaren Elva

Afinal, eu seguia a regra não escrita – que julgo ser universal –  de montar para desmontar. Na primeira vez, construía o kit utilizando o manual de instruções, celebrava o feito e desmontava a construção, jogando as peças dentro da caixa de TV. A partir dali, tal qual as “Aventuras de Papelão”, eu fazia as minhas histórias.

And remembers being small / Playing under the table and dreaming

E (ele) lembra ser pequeno / Brincando embaixo da mesa e sonhando

Lembrei desse trecho de “Ants Marching”, da Dave Matthews Band, enquanto montava o segundo kit: um quarto de criança com uma nave de papelão. Me vi com 10, 12 anos de idade naquele personagem, criando mundos, veículos, prédios e histórias. Não me importava lembrar a origem das pecinhas. Eu gostava de saber o que poderia fazer com elas. As peças vermelhas de Lego poderiam compor um grande quartel do Corpo de Bombeiros, com suas viaturas, pessoas e chamados de socorro. O cavalo do kit medieval agora morava em uma fazenda, O avião poderia virar uma nave espacial, ou ser um motor para carros. E eu pensava que, tivesse o tamanho de um bonequinho de Lego, entraria na nave, viajaria o mundo e conheceria outros planetas.

Cosmic Cardboard Adventures

Natália também brincava, e eventualmente, nossos primos também se juntavam. Quando isso acontecia, além da criatividade e das habilidades motoras, era preciso praticar a colaboração, a comunicação e eventualmente, um pouco de negociação.

Eu cresci e a grande caixa de Lego seguiu seu rumo, indo para meus primos mais novos. O carinho e interesse continuavam morando aqui comigo, mas as prioridades eram outras. Sempre solto um “ó!” e dou um sorriso quando vejo o Lego sendo usado em outros contextos: exercícios escolares, rotinas de check-ins em eventos e quando há intenção de desenvolver habilidades socioemocionais em adultos: criatividade e pensamento crítico, por exemplo.

Módulo Lunar Eagle

Por isso, ganhar e montar o Módulo Lunar foi um presentão carinhoso para completar esse círculo afetivo. Para um “montador da velha guarda”, esse é o kit mais sofisticado já montado. Para um apaixonado pela exploração espacial, é cheio de significados.

Um pouco mais metódico na construção, ainda muito impressionado com as peças novas e, tal qual antigamente, compartilhava o progresso da construção, do “Mar da Tranquilidade” até a última pecinha do estágio de ascensão, com a Carol. No processo, também um mar de lembranças: a minha visita ao Museu dos Cosmonautas em Moscou, trechos da letra de “Satellite”, da minha tentativa frustrada de fotografar a lua em 20 de julho de 2019, data do cinquentenário do pouso da Apollo 11. Em um recorte simplista e ingênuo, fiquei elucubrando também sobre criatividade, comunicação, curiosidade, resolução de problemas foram (e continuam) importantes para entendermos a lua, nosso sistema solar e além.

Aos 12 anos, na minha junção de pecinhas, devo ter construído uma nave espacial que levaria um bonequinho de Lego também para a lua, o sistema solar e além. E possivelmente, seria legal desmontar e construir outras coisas, mas não será o caso. Vou contemplar a Mclaren, a criança em uma caixa de papelão e o Módulo Lunar e, para além do Lego, continuar carregando (e praticando) as conexões pouco prováveis e a liberdade criativa para construir coisas novas.

Comments (2)

  1. Walter Romano

    Quanta sensibilidade neste texto, Cabeça. Luca se tornou um aficionado por lego e tenho me divertido muito com ele na exploração desse universo lúdico das pecinhas. Mês passado montamos juntos esse quartinho do foguete de papelão. Experiência deliciosa de conexão entre gerações. A dúvida que estou agora é exatamente sobre o quanto organizada ou não deve ser a caixinha de peças desmontadas. Conflito bom esse caos criativo. Abraço, meu amigo.

    • Felipe

      Obrigado, Walteen, vindo de você significa muito!

      Não tenho resposta para a organização das pecinhas dentro do “caos criativo”, haha. De repente, organizar acelera a construção e sem matar a criatividade!

      Abração!

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