Tecendo criatividade e artes

28 de dezembro de 2023
Posted in Divagações
28 de dezembro de 2023 Felipe

Tecendo criatividade e artes

Somada aos causos coletados nas andanças do trabalho, a paternidade tem me feito pensar sobre o desenvolvimento de uma habilidade trivial: a criatividade. Desde cedo, como podemos entendê-la como algo que pode ser desenvolvida e não como um dom? Quais são os caminhos pra isso, como as escolas podem incentivá-la e como continuar esse desenvolvimento na vida adulta?

(São tantas questões…)

É um tema longo e que não será resolvido em um post. Para começar a conversa, lembrei do primeiro dia completo das férias em Nova York, quando visitamos o Museu Guggenheim. E além do bairro chique, do fato de ser vizinho ao Central Park, do prédio lindo e do acervo, fiquei também atento e impressionado com a exposição “A Year with Children” (“O ano com as crianças”, em tradução literal). É o resultado do programa “Learning Through Arts” (“Aprendendo através das artes”), onde ao longo de 20 semanas, artistas vão para escolas públicas da cidade de Nova York e colaboram com os professores para desenvolver, facilitar e integrar projetos de arte no currículo escolar.

O programa está em sua 52ª edição e envolve estudantes do segundo ao sexto ano, que podem experimentar uma variedade de formas de expressão para responder às questões propostas. Em 2023, uma das questões que serviu para discussão e criação era “Como minha comunidade molda a minha identidade e como minha identidade pode moldar minha comunidade?

De cara, lembrei da minha própria formação. Tive a oportunidade e o privilégio de praticar a criatividade desde pequeno, com estímulos no ambiente familiar e na escola. Em casa, majoritariamente por meio das referências do meu pai e da minha mãe, além do Lego, bateria, fotografia e afins.

O currículo da Escola da Serra – onde fiz grande parte do Ensino Fundamental – dava muito espaço ao teatro, à música e às artes plásticas. Não me lembro das intersecções pedagógicas, porém entendo que os exercícios foram importantes para entender as artes como impulsionadoras da criatividade, seja como ferramenta de refinamento da curiosidade (e a fartura de perguntas do tipo “tá, e como isso funciona?”), entender que existe um processo criativo e, em um aspecto bem pessoal, como elas podem ser ferramentas de expressão das emoções sem o uso das palavras.

Na transição para a vida adulta e para o trabalho, o ponto foi entender que a criatividade vai muito além das artes e das brincadeiras. É uma habilidade importante para uma longa lista de tarefas: da resolução de problemas às conversas difíceis passando por pequenos reparos, inovação e por aí vai. O motor continua sendo o mesmo da época escolar: a curiosidade (ou “tá, e como posso fazer isso de uma forma diferente?“), o processo criativo e as artes como uma forma fundamental de identidade e expressão.

Para isso, penso que os desafios são os mesmos na infância e na vida adulta: como criar espaço para que as pessoas entendam, reconheçam suas emoções e se sintam seguras para expressá-las; como desenvolver o repertório de atividades para que pais e mães, professores, áreas de Treinamento e Desenvolvimento das organizações consigam falar sobre criatividade; como criar momentos para as práticas relacionadas à essa habilidade.

Esse último desafio também é intrínseco. Precisamos sempre nos perguntar como praticar a criatividade em nossas vidas. E a resposta pode estar nas artes. Imaginem quais são as possibilidades de trocas, construções e identidades que moram na pergunta que citei no começo desse texto? “Como minha comunidade molda a minha identidade e como minha identidade pode moldar minha comunidade?” significa ser visto, ouvido e respeitado. No ambiente escolar, significa criar interesse e dar sentido para esse espaço e também criar momentos de conversa. Afinal, as minhas referências não são necessariamente as mesmas das outras pessoas que estão na sala de aula. Ou no ambiente de trabalho, seria muito legal ver ações de aprendizagem corporativa baseadas nas premissas do Learning Through Arts.

Adoraria conhecer e trocar sobre atividades e iniciativas similares aqui no Brasil, podem ser promovidas por museus ou escolas. Mais do que isso, adoraria bater um papo sobre artes, expressão e criatividade e as conexões na infância e vida adulta. Vamos fazer isso acontecer?

 

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Comments (2)

  1. Stella Lobo

    Seu texto e interessante mas foca na criatividade a partir da arte. E isso é super válido. Mas a criatividade na escola pode e deve ser desenvoida no dia a dia, dentro do currículo daquelas matérias onde quase nada é criativo. Pq, se assim for, as crianças ganham adsas, a escola percebe-se criativa e a sociedade só ganha!!!

    • Felipe

      Total, Stella! Fiz só esse recorte da criatividade conectada com a arte, mas é imperativo dizer que ela pode ser praticada em todo lugar.

      Ao mesmo tempo, quis focar na arte porque ela descobre outras habilidades muitas vezes não relacionadas ao ofício: resolução de problemas, trabalho em equipe, argumentação etc.

      (Tema para um próximo texto!)

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