O dia em que a vida mudou pra sempre

22 de dezembro de 2023
Posted in Samuel
22 de dezembro de 2023 Felipe

O dia em que a vida mudou pra sempre

Aproveitando o quarto mesversário do Samuel, deixo algumas linhas sobre o dia no qual a vida mudou para sempre.

Na tarde de 19 de dezembro de 2022, saí da consulta de controle com meu oncologista e fui encontrar Carol e minha mãe na casa da Tutu. Além de reforçar a equipe de apoio para a nova mamãe do pedaço, queria compartilhar as boas notícias da consulta de controle. É muito bom ouvir “você está 1000%”.

Contei isso, apreciei a beleza da duplinha recém-chegada ao mundo, fiquei pensando sobre o meu novo papel de tio. De volta para a casa dos meus sogros, Carol subiu o lance de escadas em direção aos quartos e, em um piscar de olhos, gritou:

“AMOR! AMOR!”

Na minha cabeça, foram uns dez segundos entre ouvir esse grito e subir o lance de escadas correndo. Atrás de mim, Stellinha – a whippet – também subiu correndo em desabalada carreira. Para a Carol, o tempo entre o grito e a minha aparição foi similar ao primeiro verso de “Nothing Compares 2 U”, música escrita por Prince e brilhantemente interpretada pela Sinead O’Connor: “It’s been seven hours and 15 days” (já se passaram sete horas e 15 dias”). O espaço-tempo é realmente elástico.

Durante todo esse (curto? longo?) tempo, eu já imaginava o que estava acontecendo. Ela não gritaria se não fosse nada. Carol segurava um bastãozinho azul e branco. E na primeira linha do display desse bastãozinho, estava escrito “Grávida”. Na segunda linha, “4-5”, as semanas de gestação. Nos abraçamos, choramos e nos beijamos, num misto de susto e felicidade.

Meus sogros foram os primeiros a saber da notícia. Meus pais e Tutu souberam no dia seguinte e, com exceção de um núcleo muito restrito de familiares, amigas e amigos, seguramos a notícia até o começo de fevereiro, em um esforço hercúleo de manter a boca fechada até lá.

Naquele dia, eu consegui imaginar o que seria ser pai, em um exercício baseado em achismo e em parcas evidências. Um ano depois, ainda com achismo e muito mais evidências, vejo que minha imaginação só acertou em três coisas: 1) o Samuel existe em carne e osso; 2) dormir uma noite completa é uma utopia; 3) esse menino é lindo.

De resto, errei em tudo. Ninguém me contou, ou eu não escutei, que ter um filho é um trem difícil. Muito difícil. Não existe receita de bolo, não existe fórmula fácil e é virtualmente impossível achar alguma criança com as mesmas características da sua. Aqui, não estou falando de todo o périplo médico enfrentado pelo Samuel em seu primeiro mês de vida.

Estou falando do dia a dia mesmo, do cotidiano. Os padrões de sono, as dorzinhas que podem ser uma infinidade de coisas, o desafio que é construir um processo de comunicação, aquele que me fez pensar “acho que o Samuel não gosta de mim”, e como as relações mudam e se renovam. O trabalho é absurdamente centrado na mãe, e no lado paterno, as sensações de culpa e impotência andam agarradas nas costas como uma mochila.

Porém todo mundo me contou e eu bem escutei que ser pai é um trem incrivelmente belo. Ajudei a gerar uma vida e ela está se desenvolvendo. Perceber a cor dos olhos, os primeiros movimentos, as conquistas do processo de comunicação (e perceber que ele realmente gosta de mim!), o sorriso matinal. Mais importante, perceber que o amor é um sentimento construído com o tempo e não aparece logo de partida. Assimilar tudo isso dá sentido para a minha vida e ajuda a colocar ordem em um mundo cada vez mais esculhambado.

Ser pai também tem trazido um medo absurdo da finitude. E voltando ao começo do texto, descobrir a gravidez da Carol foi a cereja do bolo de um dia bom do ponto de vista clínico. Desde então, foram mais duas consultas com o mesmo resultado, eu estou “1000%”. Mesmo sendo parte da rotina, ainda fico ansioso e um pouco estressado com todo o processo de fazer uma ressonância magnética do crânio e uma consulta oncológica. Sempre penso no pior. Que bom que tenho me enganado. Toda boa notícia me faz imaginar a quantidade de histórias, casos e experiências que terei acompanhando o crescimento do Samuel.

Eu e Carol fazíamos o tradicional compartilhamento de músicas durante o flerte e começo de namoro. É a infalível tática e conforto de poder se expressar com letras e melodias. E quem diria que a chegada do Samuel iria dar um novo significado para esse trechinho de “So Right”, da Dave Matthews Band.

“Oh so beautiful, and so strange
Oh, it was empty until you came…”

(“Tão lindo e tão estranho,
Era um vazio até você chegar”)

Comments (7)

  1. Maria de Salete

    Felipe e Carol, vcs e Samuel são uma lição de amor, cuidado e vida.
    Muito obrigada, amo vocês. Quero muito conhecer Felipe pai, Carol mãe e Samuel filho!
    Amo vocês! Tenham um lindo Natal e um 2024 com paz, saúde e carinho.

  2. Fabio

    Eu fico imaginando o quanto ainda tenho a aprender com você. Essa fé na vida que reverbera em Carol e Samuca e inspira todos nós.

  3. MARIA APARECIDA LACERDA ALMEIDA E SILVA

    Felipe, vou sair compartilhando por ai este texto tão honesto e lindo, que nem sua nova, forte e amorosa família nuclear.
    Segue a vida que vocês ainda terão muitas emoções para nos contar.
    Tô na espera.
    beijos pra vc, pra Carol e pro fofo do Samuel.

  4. Pasticia

    Ter filho é um experiência impossível de explicar né? Sorte do Samuca de ter uma família com tanto amor! ♥️

  5. Natália Menhem

    Que emoção acompanhar essa jornada de muita sorte, fé, amor e união. O mundo torna a começar, e todos viramos recém-nascidos diante do encanto da vida. Que siga sendo linda essa jornada!

  6. Marcinha

    Meu emociono com cada letra que leio sobre vocês!
    Obrigada por me deixarem fazer parte e poder acompanhar tão de pertinho cada momento! ❤️

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *