Mesmo sendo das Minas Gerais, confesso que ainda me espanto com a solicitude mineira, especialmente quando e onde menos esperamos.
No sábado passado, 22/12, eu, Carol, Samuel e Stella saímos cedo de São Paulo para Belo Horizonte, com o carro entupido de coisas e o coração e a mente também entupidos da vã esperança de encontrar uma Fernão Dias vazia. Ledo engano.
Demoramos cinco horas para andar 150 quilômetros, com muito congestionamento já em Mairiporã. Isso já dava a tônica da viagem. E em determinado momento, já próximos da cidade de Campanha, resolvemos fugir do trânsito da rodovia para entrar na cidade e comprar um remédio para Carol, que estava explodindo de dor de cabeça. O Google Maps havia sugerido um desvio por uma estrada de terra. Em uma bifurcação, peguei a saída da esquerda, tentei enfrentar uma subida enlameada e não consegui. Retornei com cuidado e quando estávamos próximos do asfalto, apareceu o primeiro exemplo da solicitude mineira.
Cruzamos com uma pessoa que morava na região, que me indicou o caminho certo, bastava seguir o guia. Na bifurcação, pegamos a saída da direita, seguindo por uma estrada com mais cascalho. Esperamos ele deixar uma encomenda em uma fazenda e íamos bem até o carro engastalhar em outra subida enlameada. O rapaz ainda saiu do carro, tentou nos sugerir um trajeto, porém infrutífero. Agradecemos a ajuda, mas resolvemos voltar para a rodovia.
No caminho da volta, justamente na porta da fazenda, dei um toquinho no freio e o carro caiu na vala.
Eu e Carol nos permitimos um pequeno momento de “e agora, José?” e decidimos ir até a fazenda pedir ajuda. Era a única chance de sair da vala em tempo hábil.
Pra nós, era imperativo poder recompensar o esforço do Marcelo de alguma forma. E ele negou de forma enfática. “Fiquem em paz, aproveitem a família e o final de ano. Sigam com Deus“. Foi bonito e foi um alívio para o resto da viagem, que só terminou no dia seguinte. Acabamos passando a noite em Três Corações.
Descrente como estou com a raça humana e nossa capacidade empática, a atitude do primeiro motorista e a disponibilidade do Marcelo serviram como uma gentil lembrança para ainda acreditarmos em nós enquanto espécie. 🙂