Antes de começar o internato na WorldSkills São Paulo 2015, a minha ideia inicial era fazer um post por dia. Ou um vídeo por dia. Ou pelo menos conseguir atualizar vocês com alguma coisa sobre o que eu vivia nos bastidores da Competição com alguma regularidade. Mas não dá tempo, simplesmente não dá tempo. Por isso, vou tentar fazer agora, aos poucos, em alguns posts. Uma semana depois do fim do evento.
É difícil conseguir digerir e compilar o que foram os 14 dias dentro do Anhembi. E esse primeiro post é reflexo disso. Aqui são as impressões mais gerais, depois vou tentar entrar em detalhes, já que ficamos 100% focados na preparação da Competição e vivemos tudo muito intensamente lá dentro. E, claro, foi a concretização de um projeto de 15 meses. Era a hora de ver (quase) tudo o que foi planejado sendo colocado em prática.
Como chegamos nove dias antes do primeiro dia de Competição, foi bacana ver o Anhembi tomando forma. E esse prazo todo foi fundamental para se familiarizar com o espaço, com os processos e as pessoas. A velocidade que as coisas sobem impressiona. Em questão de horas um ambiente é transformado. E montagem de evento e o próprio evento requerem flexibilidade e desapego. Você precisa saber algumas coisas: 1) Aqui é trabalho, meu filho!; 2) Tenha jogo de cintura; 3) Aproveite a viagem.
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Aqui é trabalho, meu filho!, porque você acaba fazendo de um tudo na montagem, de reuniões estratégicas até carregar caixas, atravessar o Sambódromo atrás de credencial para os seus fornecedores ou ir buscar material de escritório no almoxarifado na ponta do Pavilhão. Como o time de Comunicação era responsável por três salas e mais de cem pessoas, todo mundo se desdobrou pra colocar as coisas em ordem.
Sobre o time de Comunicação, um adendo: Há uma grande vantagem em trabalhar com gente boa de serviço e onde mais de uma pessoa sabe fazer o mesmo ofício. As coisas fluem com mais tranquilidade. Mais do que nunca, uma pessoa do time cobria a outra e tudo andava bem, dentro do cenário caótico.
Os dias também não tinham hora pra acabar, principalmente antes da Competição começar. Então quando você se dá conta, está caminhando pelo Pavilhão às 2h da manhã checando se TVs e tótens estavam em ordem. Ou indo pela terceira vez no mesmo lugar resolver o mesmo problema. Resultado: andei 213 km no período da Competição.
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Tenha jogo de cintura, porque o evento é gigante. Todos estão no mesmo barco, porém são culturas, históricos, experiências e urgências diferentes. Numa conta de padeiro, só na sala de Comunicação a gente tinha pessoas de pelo menos dez países diferentes trabalhando. Cada um com uma forma de trabalhar bem distinta. Sem contar os atendimentos: Podia ser um jornalista indiano pedindo uma credencial para uma Cerimônia ou a Expert húngara de marcenaria reclamando que as identificações dos competidores da sua ocupação estavam erradas.
É preciso também muita sabedoria para se colocar no lugar do outro, e isso faz com que dificilmente seu problema será o maior de todos ou sua demanda será a mais urgente. Um exemplo: Eu precisei de mais de 80 credenciais para meus fornecedores. Cada mudança de profissional ou nova necessidade significava uma ida ao credenciamento. E o time de credenciamento estava completamente atolado, lidando com problemas muito mais graves. Não dá para chegar e simplesmente cobrar. No tempo certo, tudo se resolve. 🙂
A WorldSkills São Paulo 2015 foi a maior oportunidade para trabalhar com culturas (nacionais e institucionais) diferentes e muitas vezes sob pressão. E se não tiver jogo de cintura, o negócio não vai pra frente.
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Finalmente, aproveite a viagem. A minha regra pessoal era simples: “Galera, não cortem minha onda!”. Foram 15 meses de trabalho árduo, reuniões, planejamentos e pontos de vista diferentes. Isso significou um desgaste emocional, físico e muitas vezes interpessoal. Muita coisa deu certo, algumas não saíram como planejado, mas era impossível não sentir orgulho do que foi feito. Pessoalmente foi uma chance de ouro para conhecer muita gente nova e amadurecer tremendamente. Ganhei uns 15 anos em 15 meses, tranquilamente.
A atmosfera mudou quando os Competidores começaram a chegar no Anhembi. Era o sinal de que as coisas estavam de fato acontecendo. As delegações entrando durante a Cerimônia de Abertura, os gritos de guerra, os neozelandeses fazendo o haka.
É impossível não se emocionar com toda a movimentação dos visitantes durante a Competição. Meu tio foi com meus priminhos, de 9 e 7 anos de idade. Os olhos dos meninos brilhavam e não é pra menos. A WorldSkills é a celebração dos diferentes tipos de inteligência e criatividade humanas e isso é fascinante.
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Claro, tudo o que é bom tem hora pra acabar. O processo de desaceleração é muito mais abrupto do que o de aceleração. A Competição acabou às 16h do sábado, 15. Devia ser umas 22h quando entrei no Palácio de Convenções para checar algo na nossa sala. O processo de desmontagem já estava em pleno vapor, e todos os estandes já estavam no chão. Me deu uma vontade de falar “calma, gente! Vamos subir essa parede de novo. Me dá um tempinho pra acostumar com a ideia que tudo acabou!”. Em vão. O Anhembi precisa ficar pronto para outro evento.
E a gente tem que planejar os próximos passos. Fico tremendo orgulhoso de poder colocar a WorldSkills na minha vida e no meu currículo. E espero que o nosso trabalho tenha ajudado a colocar a educação profissional na pauta de formação e carreira dos jovens. Se isso acontecer, foi sinal de que nosso trabalho foi bem feito. E isso é muito bom. 🙂
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Ah, temos fotos maravilhosas no Flickr da WorldSkills e vídeos sensacionais no canal no YouTube.
Patrícia Gresta
E bota orgulho nisso, né, Cab’s?!!! E os seus 213 kms percorridos foram para combinar com os 213 mil metros quadrados de área construída para a competição. Foi uma jornada incrível, que ficará na memória para sempre! 🙂
Bjos,