Saber quem somos facilita as mudanças

13 de julho de 2021
Posted in Divagações
13 de julho de 2021 Felipe

Saber quem somos facilita as mudanças

Ontem, o Dudu Loureiro compartilhou no Linkedin uma matéria sobre o “Two Beats Ahead: What Musical Minds Teach Us About Innovation”, novo livro de Michael Hendrix e Panos Panay. Hendrix é sócio na IDEO, uma das maiores consultorias de design do mundo e professor na Berklee College of Music. Panay é Vice-Presidente de Estratégia na mesma Berklee.

Michael e Panos não são novos pra mim. Em 2017, acabei indo sem querer em um painel conduzido pelos dois no SXSW, onde falavam sobre as interseções entre música e design. O trabalho dos dois acabou me influenciando na construção do “Improviso para não músicos”, uma palestra que faço junto com o Diego Mancini sobre o que a música e o jazz podem nos ajudar para navegar e aprender em tempos complexos e que está no catálogo da 42formas.

A matéria compartilhada pelo Dudu traz cinco lições do “Two Beats”, onde os autores falam sobre como a mentalidade musical pode ensinar sobre inovação. Já me deu vontade de ler, o livro está na lista. Mas no meu momento atual, a lição 5 foi muito certeira.

Stay the same to reinvent yourself. (Seja o mesmo para se reinventar)

Esse trecho traz um pedaço da história da Nokia, do manejo da celulose até o trabalho com telecomunicações. E traz também os vários personagens do artista David Bowie. Independente de qual era, Bowie sempre foi Bowie. E em suas palavras: “Tirando o teatro, o figurino e a camada externa, sou um escritor”. Era isso. Durante 40 anos, Bowie pesquisava sobre o tema que ele ia escrever, e junto colocava suas percepções sobre solidão, isolamento, busca espiritual e uma forma de comunicar com as pessoas.

A frase final da matéria é muito poderosa: “A autoconsciência torna a mudança mais fácil. Conheça a sua verdade – e saiba que você tem a liberdade de mudar por causa dela.” Saber quem somos e o que nos move, nos dá a capacidade de reinvenção. Essa frase conversa muito comigo e resume bem a minha jornada nos últimos tempos. Já falei, mas repito, a ideia é mudar a chave do “tenho que provar alguma coisa pra alguém” e continuar na busca de mais gentileza e generosidade comigo mesmo e com a minha trajetória.

Depois que li essa matéria, comecei a pensar em um outro ponto, o que amarra toda essa história do lado de cá: acredito que a minha verdade, a essência das coisas que me movem, partem de uma mistura da criatividade com a curiosidade. Profissionalmente, da escola até a 42formas, passando por agências digitais e times de comunicação. Como hobby ou “profissão alternativa”, a fotografia, a bateria, a marcenaria, essa em menor escala. Como interesse, pesquisar sobre esportes, programas espaciais, cultura no geral.

Tem horas que é esquisito saber detalhes que fazem pouca diferença na vida das pessoas, por exemplo, como as fontes de nomes e números em camisas de futebol e carros de corrida são escolhidas. Umas tão lindas, outras tão feias.

Mas isso dá margem para fazer conexões inusitadas, pegar um conceito da música e levar pra fora dela, ver a composição de uma fotografia e colocar no trabalho. Perceber e entender a curiosidade e a criatividade como minhas verdades, deixa as coisas mais claras e brutalmente honestas, especialmente em um momento muito ruim nos espaços disponíveis para compartilhar nossas ideias, ou seja, as redes sociais. Somos convidados a desempenhar papeis totalmente padronizados, longe do que somos. Fotogênicos (e vendedores) no Instagram, inteligentes no Linkedin, etc e tal.

Ter que fazer esse papel cansa. E dá pouca margem para a mudar e experimentar coisas novas, baseadas nas premissas reais. Conseguir expressar a verdade em diferentes formas, feito o Bowie fazia, é desafiador e é um trabalho constante. Como dizia Miles Davis, “de vez em quando demoramos muito para soarmos feito nós mesmos”.

Tenho sentido esse desafio com uma camada extra, que é conseguir explorar essa nova fase da vida pós-cirurgia, olhando com carinho para o passado, mas mais aberto para criar novas possibilidades e colocar as ideias pra fora. Menos preocupado com algoritmos, menos preocupado em parecer ser quem não sou. Experimentar mais, porque experimentar é uma disciplina também.

Finalmente, continuar celebrando as conexões improváveis. Tenho certeza que essa matéria compartilhada pelo Dudu será útil no trabalho, acabou sendo útil pra minha vida também.

Comments (2)

  1. Aparecida Lacerda

    Gostei demais. Levarei comigo a ideia de “ser você mesmo para se reinventar”. Já me reinventei algumas vezes. Vou lá dar uma olhada e buscar o que permaneceu de comum – das delicia de ter percorrido uma longa estrada.

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