Expressão

20 de julho de 2022
Posted in Divagações
20 de julho de 2022 Felipe

Expressão

Duas entrevistas dispararam caixas de fogos de artifício na minha cabeça. Figurativamente.

Acompanho o trabalho do guitarrista Cory Wong há pouco tempo. Conheci ouvindo seu disco “Motivational Music for the Syncopated Soul“, que acabou sendo trilha sonora de grande parte da minha viagem para a WorldSkills Kazan, em 2019. Acho bem interessante a sua capacidade criativa e as empreitadas para além da música, algo que parece comum nos artistas de hoje. Cory faz um programa de variedades em seu canal no youtube, tem um podcast e é um bom entrevistador.

E duas entrevistas que ouvi no Wong Notes, o seu podcast, ajudaram a abrir a caixa de ideias e reflexões sobre aspectos pessoais e profissionais, tipo a quebra do muro do bloqueio criativo e da autocensura. Falo aqui das conversas com Victor Wooten e Steve Jordan, duas referências para esse que vos escreve. Um passeio sobre música, obviamente, mas também sobre identidade, aprendizagem, colaboração e liderança.

Dá para refletir sobre todos esses aspectos. Resolvi começar com a questão da identidade, ou como mostrá-la por meio da arte. Faz ligação direta com a minha realidade, pensando nas duas artes onde mais me expresso, fotografia e música, e transborda também para a parte profissional. Wooten e Jordan dizem que muitas vezes, damos mais peso à ideia de aprender um instrumento e emular alguém, quando deveríamos aprender a nos expressar.

Liguei os pontos e percebi que me expresso melhor fotografando do que tocando bateria, mesmo com similaridades nos pontos fortes e fracos. Nos pontos fortes, parto do mesmo lugar, a curiosidade. Me interessei pelo meio, estudo, pratico, troco experiências com muita gente e coleto a maior quantidade de referências possíveis. Nesse processo, vou criando repertório e selecionando aquilo que reflete a minha linguagem, quem eu sou e o que quero expressar. E fico nesse espírito quando estou atrás da câmera. Não fotografo pensando nas coisas que o David Burnett, o Pete Souza ou o Carlos Hauck fariam no lugar. Na imensa maioria das vezes estou em um papel passivo, registro pessoas caminhando, um panorama, tento achar simetrias. Observo.

Tocando bateria, fico confortável interagindo com as pessoas no estúdio/palco, criando espaço, dando suporte e fazendo as pessoas dançarem. Porém ainda há o desconforto em determinados momentos, especialmente quando estou tocando músicas pela primeira vez ou na hora dos solos. Não raro, penso que preciso tocar feito a gravação ou que “seria legal fazer aquilo que o Steve Jordan, o Carter Beauford ou o Arthur Rezende fazem”. Muito mais em um sentido de caminho seguro do que “pegar essas influências e fazer o meu som”. Já foi muito pior e ainda tem muito espaço para estar na categoria “aceitável”.

Tem a ver com o medo de “aparecer demais”, “incomodar as outras pessoas”, “não soar interessante”. Esse conjunto de sentimentos não está restrito à música. Isso aparece também na fotografia, porque sou tímido para dirigir pessoas. Recentemente, também fiz essa conexão com a vida profissional, partindo de uma observação feita por uma colega de trabalho que acompanhava uma facilitação que eu conduzia. “Felipe, na hora de pedir silêncio, pode falar alto”. Eu comentei que ainda estava tímido, por isso falava “Pessoal!” e esperava que as pessoas me olhassem. “Não, bobagem. Pode se impor um pouquinho mais e tá tudo certo“.

Para esse último caso, apliquei uma lição que aprendi na música e na fotografia: experimentação e pequenos passos. No momento seguinte, pedi a atenção das pessoas presentes de uma maneira cortês e mais incisiva. Deu certo. Não reinventei a roda ou copiei alguém, só perdi a timidez.

Esse círculo virtuoso: “curiosidade, experimentação, pequenos passos, exposição, mostrar o trabalho, repetir” pode andar junto com “ser o mesmo para se reinventar“. Não dá para fotografar e tocar bateria emulando outra pessoa. Também não dá para escrever e falar sobre educação utilizando outras vozes. É preciso continuar colhendo as referências e inspirações, fazer as conexões improváveis (1 + 1 = 3) e principalmente, continuar vencendo o medo de colocar o trabalho no mundo.

Sigo descobrindo os caminhos. 🙂

Comments (2)

  1. Eti

    Felipe.
    Auto conhecimento, isso permite um depoimento como esse, claro e corajoso.
    Gostei muito. Do conteúdo e da forma.
    Te amo.

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