
A minha curiosidade é muito ampla e eu gostaria de ser muita coisa que não posso. Por isso, vou experimentando fragmentos de tudo”
“A minha curiosidade é muito ampla e eu gostaria de ser muita coisa que não posso. Por isso, vou experimentando fragmentos de tudo”.
Me derreti por essas aspas do Gilberto Gil. Essa declaração de amor para a curiosidade entrou na extensa lista de motivos para amar esse homem. Não me deveria causar espanto saber que um dos maiores artistas vivos é uma pessoa curiosa. Mas não é todo dia que vemos uma manifestação tão explícita de algo que é essencialmente humano e comum.
Muitas vezes, usamos a palavra “curioso” de forma pejorativa. Se alguém faz perguntas demais, ela é “curiosa”. Situações ou pessoas “não convencionais” também são “curiosas”. Precisamos reforçar o contrário, a curiosidade carrega uma certa nobreza. Tem a ver com questionar, descobrir, perguntar, explorar…
Vejam as crianças. Sendo pai, o trecho “vou experimentando fragmentos de tudo” ganha outra camada de importância. A experimentação está na rotina diária do Samuel. Ao mesmo tempo que fico alerta sobre os riscos, vibro cada vez que ele investiga alguma coisa e solta um “Ó!” quando faz uma descoberta.
Ao mesmo tempo, me sinto tentado a sempre falar “o que você está fazendo, menino?” quando vejo a curiosidade infantil ultrapassando limites, tipo ver seus pijamas dentro do cesto de lixo de fraldas, simplesmente porque ele descobriu como funciona o mecanismo de abrir e fechar a tampa e resolveu experimentar.
Olho pra ele e olho pra mim, porque eu também observava as coisas, fazia perguntas (muitas), abria equipamentos, bloqueava (sem querer!) o rádio do carro, quando era criança.
Tudo para entender como as coisas funcionam, como elas são feitas, porque são o que são. Como disse o baterista e produtor Questlove nessa entrevista, “quando converso com músicos, não me interessa o produto final. Quero saber como a música foi feita”.
A curiosidade, na minha visão, anda muito junto com o processo criativo, com método científico, com o pensamento crítico, com a investigação…
E vejam, não é só a arte que precisa de gente curiosa. O Fórum Econômico Mundial, na edição 2025 do Future of Jobs Report, traz a curiosidade como uma das habilidades mais relevantes nos dias atuais. E ela será uma das habilidades que mais irá crescer até 2030.
Em um mundo cada vez mais incerto, onde precisamos lidar com informações incompletas, cenários incertos e em ritmo acelerado, a agricultura, a tecnologia digital, cuidados com saúde, automação e muitas outras indústrias precisarão de gente curiosa.
Enquanto escrevia esse texto, uma coisa me veio à cabeça: seria legal saber o que mentes brilhantes pensam sobre a curiosidade. Por isso, pedi para que algumas pessoas respondessem às duas perguntas abaixo. São pessoas que tenho profundo apreço, que me inspiram, são fontes de aprendizado e são curiosas:
- O que é curiosidade para você?
- No seu contexto diário, seja no trabalho, nos estudos ou no cotidiano, por que devemos desenvolvê-la e aplicá-la?
Espero que essas aspas do Gil e as respostas abaixo te ajudem a manter a sua curiosidade em dia!
Por Natália Menhem
Curiosidade é uma fagulha interna que me leva a pensar: “e o que mais?” O que mais tem para saber e para descobrir? O que mais cabe em cada resposta ou possibilidade? O que mais pode ser diferente da realidade dada? O que mais existe para além do que eu já sei?”. Essa fagulha é o que nos permite expandir nossos horizontes, sair do ensimesmamento e da repetição sem questionamento.
Sem curiosidade, rapidamente viramos máquinas que repetem o que viram, ouviram ou estão acostumadas a fazer, sem se questionar se a forma de viver, estar e pensar o mundo pode ser diferente. Se a gente se incomoda com o estado das coisas, é imprescindível deixar a curiosidade aflorar para que possamos acessar outras formas de estar o mundo e ver outras possibilidades de existir.
Natalia Menhem é minha irmã, cientista social, poeta, arteterapeuta, estrategista de comunicação corporativa e mãe de gêmeos.
Por Edu Valladares
Pra mim, a curiosidade se manifesta como uma coceira intelectual, uma pulsação incessante que não permite que a mente se contente com o óbvio. é a chama que nos impulsiona a desvendar o que está por trás da cortina, a questionar o “porquê” e o “como” de tudo, desde a complexidade do universo até o funcionamento de um simples parafuso. no caso, não se trata apenas de um desejo de aprender, mas sim uma insurreição contra a complacência. É a nossa voz interna que sussurra: “Mas e se…?”. Então, acaba sendo uma força que nos tira da zona de conforto do que já sabemos para nos lançar no terreno fértil do desconhecido, onde o aprendizado não é uma tarefa, mas uma aventura emocionante. É o que transforma o tédio em fascinação e a ignorância em um ponto de partida para a descoberta.
Acredito que desenvolver e aplicar a curiosidade não é apenas uma virtude; é uma estratégia de sobrevivência e um catalisador de oportunidades.
Enxergo a curiosidade como a nossa “antena parabólica” pessoal para o futuro. Enquanto a maioria se contenta com as frequências familiares do presente, a curiosidade nos sintoniza com os sinais fracos e emergentes do que está por vir. De certa forma, nos permite participar ativamente da construção das próximas grandes ideias, das soluções inovadoras e dos caminhos ainda não trilhados.
No trabalho, ela nos tira do piloto automático, transformando tarefas rotineiras e simples em desafios de otimização e nos impulsionando a questionar “existe uma maneira melhor?”.
Nos estudos, ela transcende a mera memorização, transformando a aprendizagem em não apenas absorver informações passivamente, mas de dissecá-las, questioná-las e recombiná-las, construindo um conhecimento orgânico e profundamente enraizado, que se adapta e cresce.
E, no cotidiano, a curiosidade é o que nos mantém vibrantes e presentes, mesmo reconhecendo que, pra isso, precisamos desenvolver nossa habilidade de aprender com vulnerabilidade, o que chamo de Aprendabilidade.
Edu Valladares é designer de aprendizagem e professor. Autor dos livros “CRIAWAY” e “Como Aprender Melhor”.
Por Leandro Duarte
A cada nova incursão em que a curiosidade me enfia, eu aprendo uma nova atividade humana, desde as mais abstratas até as mais materiais. E isso traz uma perspectiva completamente nova de como uma atividade qualquer funciona, de como a mente e o corpo humano funcionam, da importância do tempo, das habilidades, da aprendizagem, do engajamento, da vontade, da resiliência.
Ao mergulhar numa nova atividade humana, da brassagem de cerveja à pesquisa científica, de tocar bateria a criar uma filha, de desenhar uma experiência a trocar a resistência do chuveiro, eu me vejo no lugar de outras pessoas, me enxergo no grande contexto, identifico meu tamanho na ordem geral das coisas, percebo a dificuldade de alcançar a excelência em cada um desses interesses diferentes e concordo cada vez mais com os fragmentos do Gil.
Leandro Duarte é comunicador, designer de experiências e sócio da Nuts.
Por Paula Basques
Curiosidade para mim tem a ver com uma frase que meu pai sempre falava (um curioso como você descreveu de mão cheia!): “saber não ocupa espaço”. Cresci ouvindo isso e sempre que tenho a oportunidade adequada uso a mesma frase. Em tempos em que diferentes conhecimentos sabiamente conectados e aplicados à prática são um diferencial na vida pessoa e profissional. Também acredito que curiosidade tem a ver com tentativa e erro. Um exemplo meu a respeito disso: em algumas demandas, preciso de imagens para apresentações que faço em clientes, se não encontro pronta, nas inúmeras tentativas e erros em IA geradoras de texto, descobri que se usar a descrição de imagem que o DeepSeek gera e pedir a imagem para o Gemini, pode funcionar bem. Sim, eu sei que existem IA que geram imagens, mas a minha curiosidade me levou a encontrar uma solução alternativa.
No trabalho, entendo que ser curioso com foco em aprendizagem e ganho de conhecimento é uma vantagem competitiva para a carreira e possibilidade de crescimento da atuação profissional. Mas, é preciso entender que o foco não é exclusivamente crescer na hierarquia, mas sim, ser reconhecido pela capacidade de gerar soluções criativas para diferentes situações e demandas.
Paula Basques é Consultora em Desenvolvimento Organizacional e Especialista em Reestruturação do Design Organizacional e Gestão Estratégica de Pessoas.
Tia Eti
Felipe, sou uma pessoa curiosa em geral. Mas especialmente com pessoas, gosto de saber como se formaram, o que pensam, porque escolheram esses caminhos, como eram quando fizeram suas grandes obras.
Tenho 72 anos e minha curiosidade sobre como funcionam as coisas nesse mundo de eletricidade e IA é apenas para ter uma visão geral e estar mais confortável nessa casa. Beijos.