SXSW 2025

2 de maio de 2025
Posted in Trabalho
2 de maio de 2025 Felipe

SXSW 2025

Colocando no blog para a perenidade, um registro sobre o SXSW 2025, contando sobre a jornada Oddly e Flash e algumas reflexões sobre o futuro do trabalho.


A sétima ida à Austin para o sexto SXSW começou de forma inusitada, com um convite do Walter Romano e do Tiago Pereira, as mentes por trás da Oddly Experience para dar apoio à jornada de Executivos de RH feita com o patrocínio da Flash.

Walter Romano e Tiago Pereira.

Walter Romano, o Walteen, é uma das pessoas mais generosas, criativas e legais que eu conheço. Já são quase 25 anos de amizade, desde que entrei na Lazo para a minha primeira experiência profissional, um desenvolvedor web. Um diálogo que tivemos em 2003 sobre cheiro do espirro é um dos posts mais comentados do blog. Finalmente, foi ele quem me apresentou o SXSW, tema da edição 26 do Ainda Sem Nome, o podcast que produzi com o Caio Oliveira por muitos anos.

O Tiago Pereira foi colega de trabalho do Walteen na Petrobrás e nos conhecemos em um Download, os eventos pós-SXSW, feito no Rio de Janeiro em 2018. Há três anos, ele é o anfitrião de um meet up de profissionais de RH no SXSW, que é um sucesso de público e crítica. Uma pessoa inteligente, sagaz, de papo reto e também generosa.

A amizade com Daniel Rocha, o Ceió, também é um presente da Lazo em 2003. Pela segunda vez, a família Vigil-Rocha (Daniel; Susana; Clara; Tony, o daschund e Amy, a gata) me hospedaram na cidade. Minha agenda estava um pouco mais caótica comparada com 2023, então não pude ser o melhor e mais presente dos hóspedes. Pena pra mim, porque é sempre uma alegria estar cercado de gente querida.

No festival, minha missão era ajudar na curadoria de conteúdo e orientação para parte do grupo que composto por 15 executivos e executivas de RH, muitos indo pela primeira vez. Antes da viagem, conversei e ajudei na construção da agenda de sete pessoas. Em Austin, ajudei no processo de descoberta do festival e da cidade e pude aproveitar os momentos em grupo para fazer aquilo que é a grande gema do SXSW: poder ouvir as impressões e pontos de vista das pessoas sobre os conteúdos assistidos.

E falando em conteúdos, esse ano, o meu olhar estava focado em duas coisas. A primeira eram as discussões sobre futuro do trabalho, tema que dividi com o Tiago no Report da Jornada Flash. A segunda, qual é importância da criatividade e de outras habilidades humanas em tempos de Inteligência Artificial. Isso tem a ver com o Círculo Musical da Construção de Soluções.

O que pensei sobre o futuro do trabalho

Me toquei que estamos imersos em uma grande mudança, que é a forma como nos relacionamos com o trabalho enquanto sociedade, e como essa mudança irá se acentuar. Começa com um ponto super importante, que é a diminuição e o envelhecimento da população global.

No Brasil e nos Estados Unidos, a taxa de natalidade está em 1,62 filhos por mulher. O número para manter a população estável seria 2,1. Nos Estados Unidos, sem imigração, isso significa uma queda de quase 80 milhões de pessoas nas próximas décadas.

Esse cenário afeta diretamente o mercado de trabalho: menos gente entrando, mais gente envelhecendo e uma necessidade urgente de repensar quem trabalha, como trabalha, e por quê. Nesse ponto, gostei da sessão “No Degree? No Problem. Challenging Enduring Talent Myths”, porque trouxe luz para novas formas de contratação, com foco em habilidades, não em diplomas.

As organizações também enfrentam desafios em relação à Geração Z, que tem um novo olhar sobre o trabalho e o sistema capitalista. Só 22% deles dizem confiar no modelo capitalista tradicional e questionam o valor do trabalho dentro de um sistema que nem sempre entrega bem-estar. Uma pesquisa recente mostra que 72% dos Gen Z querem ser seus próprios chefes, e mais de 70% já têm uma renda paralela além do emprego fixo.

Se antes o trabalho era o centro da vida, como uma calota de carro que tudo gira ao redor, agora ele se tornou mais uma fatia da pizza. O trabalho precisa fazer sentido, mas também precisa caber na vida — e não o contrário.

Como tomar decisões e encarar esse cenário de incertezas muitas vezes com informações incompletas? Como olhamos para o futuro e quais são as ferramentas que a gente pode usar para construir cenários?

Eu gosto muito da matriz Cynefin, feita pelo pesquisador David Snowden. É uma tentativa de dar sentido aos “múltiplos fatores em nosso ambiente e em nossa experiência que nos influenciam de maneiras que nunca poderemos entender”. Ela era citada nas formações que fazíamos no Centro Lemann com lideranças educacionais de 66 cidades do Brasil. Era legal ver o olhar de desconfiança virar um olhar de curiosidade.

Em sua sessão, Maggie Jackson trouxe duas definições de incerteza. Temos a incerteza aleatória, a incerteza do mundo — as variáveis externas, imprevisíveis, que fogem ao controle humano, e a incerteza epistêmica, a incerteza interna — nossa resposta psicológica ao desconhecido.

Nos dois casos, só conseguimos entender e navegar na incerteza se nutrirmos a curiosidade. Fazer perguntas do tipo “Por quê?”, “E se…?” “E se o contrário também for verdade?”. Podemos usar essas perguntas para expandir o entendimento de uma situação, pra superar vieses e automatismos e para abrir caminhos para a adaptação e inovação.

Faça a pergunta certa e aí a tecnologia vem depois“, como John Gauntt e Kate Baucherel falaram em “The Futurist Toolkit: Building a Business Strategy for 2050“. Em determinado momento, Gauntt em sua sessão, a tecnologia pode prever, mas é o mundo real — com sua aleatoriedade — que decide o desfecho.

Fiquei feliz em ver o Rishad Tobaccowala também trazendo a analogia de que as organizações precisam ser menos parecidas com orquestras, com alguém regendo pessoas extremamente ensaiadas, e mais parecidas com quartetos de jazz, mais fluídas e com diferentes pessoas levando a música para lugares inesperados.

Ou seja, as organizações precisam descobrir como fazer a contratação por habilidades funcionar. Afinal, em 2022, mais de um terço dos trabalhadores norte-americanos equilibrava mais de um trabalho ao mesmo tempo, sendo que dois terços dessa população tinham menos de 30 anos. Também é preciso repensar a atração de talentos, tanto para os jovens quanto para as pessoas mais velhas.

Ao mesmo tempo, precisamos manter a curiosidade e a criatividade sempre afiadas, porque o futuro do trabalho exige (re)qualificação constante. Você vai ouvir falar bastante sobre o conceito de “skill flux“, trazido pelo futurista Ian Beacraft, onde as habilidades têm um prazo de validade cada vez menor. Uma resposta para esse prazo curto é o surge skilling, ciclos mais curtos de treinamento de habilidades que têm aplicação imediata nas organizações. Este post da Michelle Schneider explica bem os dois conceitos.

E falando sobre as pessoas

O ano de 2017 foi o ano do meu segundo SXSW. Naquela edição, eu, Marcos Arthur, Marina Assis, Fabrício Vitorino e Estevan Paiva ficamos no mesmo quarto no finado e saudoso (?) Drifter Jack’s Hostel. A melhor parte dessa experiência eram as resenhas nos cafés da manhã e happy hours, onde discutíamos o que havíamos visto, compartilhávamos as experiências e causos.

Em 2025, tive a sorte de fazer isso com pessoas que eu conheci ao longo da Jornada Flash e rever amigos de outros carnavais. Após um 2024 conturbado, poder conversar, refletir e dar risadas com as pessoas do carrossel abaixo, me deixou energizado para continuar seguindo em frente.

 

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