Quando transformei o surdo da minha bateria em um bumbo

17 de dezembro de 2024
Posted in Divagações
17 de dezembro de 2024 Felipe

Quando transformei o surdo da minha bateria em um bumbo

(ou como fiz a reunião de duas das minhas “mad skills“*.)

Há alguns dias, eu compartilhei no Instagram e com alguns amigos uma experiência que eu fiz com a minha bateria. Creio que vale a pena trazer para a perenidade do blog, fugindo da efemeridade de um Instagram.

Em setembro de 2020, num processo para aprender um pouco mais sobre marcenaria, fiz um suporte para transformar o surdo de 16 polegadas da minha bateria em um bumbo. Uma breve explicação: em um kit de bateria, o surdo é o tambor que usualmente fica no lado oposto da caixa e do chimbal. O bumbo é o maior tambor do kit que é tocado com um pedal, veja a imagem abaixo.

Uma explicação das peças e meu ponto de vista no kit de bateria | Foto: Arquivo pessoal.

Fiz isso por alguns motivos: ter um bumbo menor para diferentes oportunidades; explorar um kit minimalista (minha inspiração é a música “Introducing the Fearless Flyers” com o Nate Smith na bateria) e, por último, no mundo fechado que vivia durante a pandemia, na divisa entre Itabirito e Nova Lima, aproveitar a oficina do João Lacerda para aprender marcenaria**.

Uma premissa era criar algo que fosse fácil de ser montado, desmontado e transportado. O principal ponto de um kit menor é que ele seja mais portátil do que um kit convencional. (Quando morava em Belo Horizonte, eu tinha uma logística refinada para colocar a minha bateria dentro do Fiat Palio da residência).

Outra premissa era utilizar somente os materiais disponíveis na oficina naquele momento: uma chapa de MDF, barras roscadas, porcas, dobradiças e espumas. E aí comecei a aventura em meio às serras e lixas.

Para fazer o encaixe, eu medi a distância entre duas das canoas de afinação do tambor, fiz o corte em curva seguindo a circunferência. Em seguida, cortei na altura onde o batedor do meu pedal ficasse centralizado no tambor. Coloquei as espumas para diminuir o atrito entre o tambor e o suporte e também para dar mais firmeza entre o suporte e o pedal. Cortei as barras roscadas seguindo a altura (ou comprimento) do tambor para unir as peças de modo que qualquer pessoa consiga montar. O modelo final foi esse.

Fiquei satisfeito com o resultado. No processo, ganhei mais familiaridade com algumas ferramentas: a serra circular para grandes cortes, a serra tico-tico para as curvas e a tupia para alguns detalhes e acabamentos.

Cheguei a testar uma vez quando voltei para São Paulo. Toquei na sala de casa, no menor volume possível e com a pele e a afinação erradas. A ideia funcionava.

 

Faltava testar “em campo”. Fiz isso recentemente, no último ensaio do ano da minha prática de banda. Com uma pele mais grossa e um sonex (material para tratamento acústico) dentro do tambor, consegui um som muito bom, comparável aos bumbos maiores. Na ocasião, encaixei o tambor de qualquer maneira no canto do kit.

E nessa execução de “Windows”, música do finado pianista Chick Corea, dá para ouvir o bom som do tambor e como o suporte manteve tudo no lugar. Aproveitem os belos solos do baixista Luciano Vieira e do guitarrista Thiago Ceconi.

 

Estou ansioso para usar esse suporte e esse kit em uma situação mais intimista, um palco pequeno, só para diversão. Ou em uma vindoura edição do “Improviso para Não Músicos”, o workshop que criei com o Diego Mancini sobre jazz, criatividade, improviso e liderança.

Naturalmente, também feliz em colocar a mão na massa, juntar dois hobbies e tirar uma ideia do papel.

* A Forbes define mad skills como: “‘habilidades “incríveis’ ou ‘fora de série’, em português, que envolvem hobbies ou interesses pessoais e que fazem um profissional ser diferente e especial”. Gosto de pensar que “curiosidade” e “criatividade” impulsionam esses hobbies e interesses.

** Já posso colocar no meu currículo: fiz bandejas, tábuas de queijos, móveis e agora, instrumentos musicais.

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