(Tenha amigos que mandam coisas legais)
O Bizafra me enviou esse artigo da The New York Times Magazine contando do documentário que jamais veremos sobre o Prince. Com nove horas de duração, foi produzido por Ezra Edelman, o mesmo que fez “O.J.: Made In America“, documentário sobre o ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson. Para falar sobre Prince, Edelman teve acesso ao “Vault”, o porão com arquivos pessoais do artista.
A fita desconstrói e reconstrói o entendimento que muita gente tinha do Prince. A genialidade e excentricidade não eram somente um personagem. Foram a resposta para mascarar uma história de vida recheada por violência familiar; o fascínio pelo poder das mulheres, pela fluidez de gênero e ao mesmo tempo querer exercer comando e controle; pela obrigatoriedade em ser invulnerável. Em 1996, ele e Mayte Garcia, sua ex-mulher, não puderam processar o luto e a perda do filho recém-nascido.
Na matéria, o baterista e produtor Questlove, fã de Prince desde os sete anos, argumenta que “é pílula difícil de engolir quando alguém que você colocou em um pedestal é normal”. E abre também uma discussão muito poderosa sobre raça. Parte das atitudes do Prince eram “como consequências de colocar uma máscara de invencibilidade — um fardo que ele sente ter sido imposto aos negros por gerações. ‘Um certo nível de escudo — poderíamos chamar de masculinidade, ou coolness: a ideia de cool, o mero ideal de cool foi inventado pelos negros para se protegerem neste país'”.
Eu, fã confesso que sou, também fiquei balançado depois de ouvir o artigo. E parece que jamais veremos o documentário, porque os controladores do espólio alegam que Edelman e a Netflix não contaram a verdade sobre o artista. Mas, como disse o próprio documentarista: “Como você pode contar a verdade sobre alguém que nunca contou a verdade sobre ele mesmo?”