Samuel completou seis meses há alguns dias e eu pensei que valeria a pena fazer essa analogia.
No SXSW de 2017, ouvi o R. Michael Hendrix (vice-presidente da IDEO na época) falar que muitas profissões exercem atividades parecidas, porém com nomes diferentes. O que designers chamam de protótipo, músicos chamam de demo, por exemplo. Para ilustrar, ele contou que sua organização, uma das mais respeitadas agências de design do mundo, levava equipes de pronto-atendimento de hospitais para trocar ideias e experiências com mecânicos de pit-stop da NASCAR, a categoria de carros mais popular dos Estados Unidos. A premissa é simples e poderosa: são ambientes diferentes, mas as duas equipes trabalham sob pressão, em um espaço limitado, com alta margem de precisão e trabalho em equipe para que as falhas não aconteçam.
Com seis meses e quase duas semanas de paternidade, penso que eu e Carol poderíamos conversar de igual para igual com essas duas equipes. Também poderíamos falar com agentes de inteligência, forças especiais, pessoas que fazem neurocirurgia. Tenho certeza que no processo de desenvolvimento desses trabalhos, existe um módulo do treinamento que envolve precisão, leveza, foco no usuário e um crescente nível de dificuldade: estou falando sobre trocar fraldas.
A troca de fraldas de hoje é diferente da troca no mês passado, que era diferente da troca no mês anterior. As coisas vão ficando mais difíceis e com desafios aleatórios. Às 3h da manhã, o desafio é fazer rápido feito um pit-stop da Fórmula 1, minimizando os riscos de um xixi sorrateiro ou, pior, despertar o Samuel. Durante o dia, a constante da velocidade e precisão continua, mas é necessário entretê-lo para que ele não interaja tanto com os objetos ao redor. Trocar fraldas de bebê já exige uma habilidade. E o que dizer das habilidades necessárias para trocar as fraldas de um bebê com o corpo em um giro de 45º enquanto brinca com a garrafa d´água e o pote com os algodões?
Há um drama similar ao da ciência forense nas análises minuciosas em cada abertura de fralda, tentando entender a mudança de cor, a quantidade e composição do cocô. Existem técnicas avançadas de negociação para que ele não perca o foco e mantenha braços e pernas sem fazer movimentos bruscos e acabe se sujando ou bagunçando mais.
E no meio disso tudo, como manter o nosso foco? Diferente das equipes de pronto socorro, de pit-stop da NASCAR e das forças especiais, antes de uma tarefa complexa, posso me dar ao luxo de olhar e apreciar esse neném se desenvolvendo, com dobrinhas, risadas e ensaio de piadas, enquanto observa e quer descobrir o mundo ao redor.
Que sorte!
Cleuza
Que lindo e delicioso de ler!!! Uma coisa que causa inveja aos pobres mortais como eu!!!
Adoro ler seus textos!!!
MARIA APARECIDA LACERDA ALMEIDA E SILVA
Felipe,
Maravilhoso. Não só curto demais o que você escreve como compartilho.
Beijos No Samuel e na Carol e em vc, lógico.
Juliana Mangussi
Ah, que ótima analogia! Arrasou, Fe!!!!!
Zé Carlos
Se tem um fator universal que une todos os pais (participativos) do mundo é que todos, sem exceção, tem uma história catastrófica envolvendo xixi ou cocô pra contar 🙂
E vai se preparando que já já tem desfralde!
Andreza Manini
Concordo com todas as considerações! Rs. Adorei o texto!
Sergio Gotti
Que texto perfeito!!!! Adorei as comparações. Parabéns, Felipe!
Giovanna
Amei ler sobre a tarefa mais complexa.
Queronuam versão 2 quando chegar a hora que ele quer sair correndo sem fralda pela casa. 🙂