Explorando o Midjourney e uma saída para o bloqueio criativo

2 de maio de 2023
Posted in Divagações
2 de maio de 2023 Felipe

Explorando o Midjourney e uma saída para o bloqueio criativo

A foto que ilustra esse post foi gerada por inteligência artificial. Traduzi a primeira estrofe de “Reconvexo“, uma das minhas músicas preferidas de Caetano Veloso, fiz o prompt no Midjourney e o resultado foi esse que você confere logo abaixo. Essa brincadeira, jogar trechos de letras e esperar o resultado, tem sido a saída que encontrei para (tentar) vencer o bloqueio criativo que tem me acometido há uns dois meses. Já explico.

the rain that launches the sands of the Sahara onto the cars in Rome, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

Uma coisa conectando com a outra. Desde a volta do SXSW Edu, mal consegui compartilhar o que vi e vivenciei na conferência. Tirando as conversas, uma apresentação de 20 minutos que fiz no trabalho e um pequeno evento no Learning Village, todas as anotações, pensamentos e conexões de ideias têm morado na minha cabeça, em uma pasta do Google Drive e no meu caderninho.

Seria fácil afirmar que as razões para esse “silêncio” seriam somente a carga de trabalho e as constantes descobertas e atribuições da vida adulta, aquela que está em constante mudança. Misturado com isso tudo, entram as razões principais: o bloqueio criativo e um sentimento (bobo) de que não estarei adicionando nenhuma novidade ao repertório e/ou a curiosidade das pessoas com o que tenho para compartilhar. Se a “constante mudança” me faz andar pra frente, as duas últimas razões me fazem ficar parado.

 

Pausa.

 

Além de uma crença reforçada na criatividade como habilidade fundamental para hoje e sempre, voltei do SXSW Edu com a vontade (e necessidade) de entender mais sobre a famigerada Inteligência Artificial Generativa e seus impactos nos ambientes de aprendizagem. Dediquei algumas horas de leitura, estudo e testes no ChatGPT, fiz uma assinatura básica do Midjourney e fui explorando. Uma exploração solitária diga-se de passagem, sem a ideia de como compartilhar algo estruturado e bem-feito com as pessoas, fora algumas imagens bobinhas que publicava em meus stories.

Até que um dia, andando pelos mesmos stories, passei pela história dessa carta do escritor Kurt Vonnegut. Em 2006, ele escreveu para cinco alunos da Xavier High School, de Nova York, em resposta ao pedido de visita à escola. O trecho abaixo é o motivo desse post:

(…) O que eu tinha para lhe dizer, além disso, não levaria muito tempo, a saber: pratique qualquer arte, música, canto, dança, atuação, desenho, pintura, escultura, poesia, ficção, ensaios, reportagens, não importa quão bem ou mal, não para obter dinheiro e fama, mas para experimentar se tornar, descobrir o que há dentro de você, fazer sua alma crescer.

 

Pensei comigo há quanto tempo tenho me privado da experimentação e exploração nas artes visuais (a fotografia, para ser específico) e na escrita, para “descobrir o que há em mim e fazer a alma crescer”. Tenho praticado pouco e editado menos ainda. E quando faço, era com a obrigação de acertar e fazer bem-feito, o que me limita tremendamente. A carta serviu de inspiração e nessa, resolvi testar uma abordagem diferente no Midjourney, a ferramenta de inteligência artificial generativa que cria imagens a partir de entradas de texto.

Depois de gerar dezenas de imagens bobinhas: cachorros em forma de balão, diagramas e infográficos de escolas, a fusão de duas fotos em uma e coisas do tipo, fiz o que está registrado na abertura do texto. Coloquei pequenos trechos de músicas que gosto e esperei o resultado. A única direção que dei foi em relação à saída: queria que parecesse uma fotografia, não uma ilustração, diagrama, colagem ou algo parecido. Me conectei de várias formas: as letras fazem sentido para mim, a música e a fotografia sempre foram formas de expressão, é divertido experimentar. Não fui atrás das artes mais bonitas. Queria entender a ferramenta, explorar as possibilidades, praticar o pensamento criativo e, na mistura das artes, me entender um pouco mais também. Os resultados você vê agora. 🙂

 

“Ants Marching” – Dave Matthews Band – Spotify

“And remembers being small
Playing under the table and dreaming”

Prompt: and remembers being small playing under the table and dreaming, shot on canon 5d Mark IV, modern mood

 

“Be (Intro)” – Common – Spotify

“Explored the world to return to where my soul begun
Never looking back, or too far in front of me
The present is a gift, and I just wanna be”

Explored the world to return to where my soul begun Never looking back or too far in front of me The present is a gift And I just wanna BE, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

 

1999 – Prince – Spotify

“I don’t wanna die
I’d rather dance my life away”

I don’t wanna die I’d rather dance my life away, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

 

“Palco” – Gilberto Gil – Spotify

“Minha aura clara, só quem é clarividente pode ver”

My clear aura can only be seen by those who are clairvoyant, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

 

Coloquei as imagens na ordem em que foram geradas, porque imagino que exista um padrão dentro da ferramenta. Afinal, a primeira imagem foi a da menininha embaixo da mesa e todas as seguintes saíram também com mulheres. O legal é testar pequenas mudanças no prompt e ter imagens completamente diferentes ainda utilizando o mesmo trecho da letra. Um bom exercício futuro: “personificar” as letras com caraterísticas da pessoa que escreveu e/ou interpretou.

 

Para fechar

Brincar com o Midjourney tem sido uma saída interessante para vencer esse bloqueio criativo. Testar prompts só por testar, sem a preocupação com qualidade ou significado tem ajudado na estruturação das ideias e na vontade de compartilhá-las. Me sinto estimulado a escrever, fotografar e… desenhar. Eu sou um péssimo desenhista, e agora, instigado com as possibilidades de geração de imagens, fico rabiscando e tentando traduzir esses rabiscos para o prompt do Midjourney. É o que disse no começo do texto: a curiosidade e a criatividade são habilidades fundamentais para esses tempos.

Assim como o lado “sério” da pesquisa. Continuar os estudos sobre possibilidades, limitações, questões éticas e de propriedade intelectual da inteligência artificial. Mas isso é tema para outras conversas.

 


 

A troca com algumas pessoas estimulou esse post. Obrigado, Carol, Natalia, Gabriel Albuquerque, Fabio Boehl e Walter Romano!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *