Acompanho, mas não escrevo tanto sobre automobilismo e Fórmula 1. Talvez devesse fazer mais vezes.
São tantos anos acompanhando as corridas, lendo notícias e se acostumando com as pessoas envolvidas, que muitas vezes esqueço que elas se aposentarão um dia. E foi por isso que ontem, 28/07, fiquei particularmente tocado com o anúncio de aposentadoria do Sebastian Vettel. Aos 35 anos, o tetracampeão mundial de Fórmula 1 achou que existem coisas mais importantes a serem feitas: estar próximo da família, tocar outras coisas, sair de um ambiente profissional que consome grande parte do seu tempo.
O vídeo do anúncio é bonito e foi ele que me motivou a escrever esse texto.
Alguns trechos do vídeo me deram vontade de sentar com o Sebastian para conversar. Poxa, cara, eu também gosto de chocolate, adoro o cheio de pão fresco de manhã, também “sou curioso e fascinado por pessoas apaixonadas e habilidosas”. A pergunta é genuína: como o Vettel se interessa por essas pessoas e pelas habilidades alheias? Pergunto porque o ambiente da Fórmula 1, além de consumir grande parte do tempo de um piloto, parece ter sido desenhado para estimular o deslumbre. Um pulo e a pessoa deve achar que o mundo gira em torno dela.
Como o Vettel se manteve atento ao que acontece ao seu redor? Como ele achou tempo para continuar se fascinando com pessoas habilidosas, e digo além daquelas que compõem as equipes? Vamos falar de marcenaria, fotografia, abelhas, música? Sinto que teríamos assuntos para um longo papo sobre curiosidade e interesses diversos.
Naturalmente, puxaria uma cadeira para Lewis Hamilton sentar junto, por essa frase: “Na parte de corrida, ele (Vettel) é incrivelmente rápido, muito inteligente, muito bom engenheiro, muito preciso na pista” e também pela curiosidade e o desejo de usar a voz e imagem para impactar o mundo muito além do automobilismo.
(Nota paralela: nessa hipotética mesa de bar, eu seria honesto e falaria que ambos passaram pelo mesmo ciclo na minha cabeça: “Nossa, um piloto novo que parece ser interessante!” > “Ele ganhou uma corrida!” > “Tá bom, você já está ganhando (e reclamando) demais!” > “Estou vendo a história sendo escrita” > “Vai ser triste quando esse cara aposentar!”)
Dei ênfase ao “muito bom engenheiro”, porque fico curioso com as estratégias de comunicação entre pilotos e o time de engenharia. Vi uma entrevista do Hamilton num evento da HSM em 2017, aqui em São Paulo. Se tivesse um momento de perguntas e respostas, a minha estava engatilhada: “como falar e entender ‘engenheirês’ sem ser um engenheiro?”
Hoje, estenderia a discussão para essa questão de olhar para além dos muros da Fórmula 1. Ter posicionamentos políticos, ideológicos e éticos que condizem com a vontade de fazer a sociedade mais justa, amplificar a voz de pessoas marginalizadas. Seria uma boa conversa.
Finalmente, perguntaria para Hamilton o quanto ele vai sentir saudades do Sebastian.
Porque eu vou sentir. 🙂