180 dias

3 de novembro de 2021
3 de novembro de 2021 Felipe

180 dias

Há seis meses e nesse mesmo horário, é bem provável que minha primeira cirurgia estivesse começando. Agora, escrevo para tentar organizar as reflexões sobre os desafios e a grande jornada de descobertas. Essa tentativa de organização pode ser resumida com esse trecho de uma mensagem que mamãe recebeu de uma amiga, depois dela ter lido os primeiros relatos:

“Da gratidão que ele expressa; da vontade de mudar, sendo o mesmo; da tentação de voltar ao mesmo lugar, sabendo que já não está mais nele.”

Eu não me canso de agradecer pelo apoio que tive de família, das pessoas amigas e conhecidas, de gente que nem conheço e está na rede de quem eu conheço. Nesse meio-tempo, também li e conheci pessoas com casos parecidos. Trocando experiências, dá pra perceber que os medos e ansiedades também se assemelham. E de novo, não sentir-se sozinho é naturalmente acolhedor.

Porém, existe um desafio extra na vontade de mudar, sendo o mesmo e a tentação de voltar ao mesmo lugar, sabendo que já não estou mais nele.

É óbvio que a cirurgia e os procedimentos resolveram o maior problema e precisarei acompanhá-lo pelo resto da vida. Mas existem outros problemas, que já estavam comigo bem antes de descobrir que o tumor na cabeça.

Basicamente, qual a vida quero viver? O quão perto estou dela? Quais são as barreiras que crio para mim mesmo nesse sentido? Esses questionamentos vivem comigo há bastante tempo e quero me afastar deles. Não quero estar mais nesse lugar. Quero continuar caminhando, construindo e, não raro, tenho imensa dificuldade em enxergar o progresso que fiz.

Da mesma forma, fazer a sintonia fina entre “mudar” e “manter a minha essência”. Muitas vezes, ainda busco a necessidade de aprovação do meu “conselho privado” para minhas ações. só que isso é uma construção da minha cabeça, não uma anuência formal dessas pessoas. Elas só querem que eu seja feliz, tenha saúde e seja autônomo.

O resto é uma construção onde sou o único responsável. Mais ação e menos observação. Especialmente quando envolvem os comportamentos e bloqueios que me impedem de sair do lugar.

Afinal, precisei descobrir um tumor na cabeça para acender o alerta sobre a finitude da vida. Não quero, e nem preciso, perder mais tempo alimentando a autosabotagem e a falta de ação. E é isso que venho trabalhando, mudar o foco para construir o caminho que eu quero e que me deixe orgulhoso.

Ainda devagarinho, mas ganhando velocidade. Vamos que vamos.

Comments (2)

  1. Aparecida Lacerda

    Sua caminhada é só sua mesmo.
    Coragem para aceitar que nos sabotamos já é um mega passo.
    Vai no seu ritmo, mas descubra e ame muito a pessoa incrível e especial que você é!
    Te amo

  2. Izabel Morais

    É isso. Essa descoberta de novos caminhos, e saber que cada um tem uma consequência, com seus erros e acertos, mas o legal é que são caminhos nossos. Eu também tenho essa busca por aprovação, mas estou me descolando disso e seguindo mais minha intuição que não falha, ois é
    impressionante às vezes que não me ouvi e me dei mal. Muito bom acompanhar suas histórias, me fez refletir um bocado também. Grande abraço amigo.

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