15 de fevereiro de 2012 Felipe

Se você quer usar como exemplo, que seja com o certo

Tropa de Elite

Na foto, a imagem que retrata um momento citado abaixo.


É sempre arriscado ficar influenciado por características erradas. Exemplos: Ver uma palestra do Bernardinho, técnico da Seleção brasileira de vôlei e ao invés de assimilar a excelência e o desejo por vitórias, achar que a chave do sucesso é gritar e dar piti com seus comandados. Ou ler a biografia do Steve Jobs e achar que ser grosso com sua equipe é mais importante do que ser apaixonado pelo que faz.

Mas, no panteão das interpretações erradas, está o filme Tropa de Elite. E fiquei sabendo que uma empresa utilizou-o (em 2012) como tema de uma Convenção de Vendas, sabe como é, pra reforçar os valores de trabalho em equipe e determinação. Queriam transformar os vendedores em uma unidade de Operações Especiais? Nunca serão, jamais serão.

Numa boa, esse filme pode servir de exemplo para várias coisas, MENOS para motivação e espírito de equipe. “As atividades em volta do tema estavam muito legais”, me contaram. Será? Se os envolvidos realmente assimilaram as ideias, veremos situações mais ou menos parecidas com essas:

  • Se o executivo de contas não bate a meta, o gerente comercial bate no cara e fala “você não é caveira, você é moleque”.
  • O cliente não quer comprar? O comercial esfrega a cara dele no produto e grita “quem é que financia essa porra?”
  • A área de produtos reclama que o Marketing não está fazendo a correta divulgação de um produto específico, que sei lá, tem falhas. O marketeiro vem e fala: “Eu quero te ajudar, eu vou te ajudar. mas você tem que me ajudar a te ajudar”.
  • O chefe precisa demitir um empregado e prefere o jeito mais fácil, tapa na cara, cusparada e gritos de “Pede pra sair!”.
  • Naquelas longas reuniões nada proveitosas, se um sujeito cochilar, o diretor pega uma granada, coloca na mão dele e diz: “Se o senhor dormir, vai explodir a sala de reuniões inteira. Continuando…”

Acho que os exemplos são muitos, mas todos provam que o filme não serve de tema para uma Convenção de vendas, tampouco para motivar a sua equipe. Utilize equipes de ciclismo, alpinistas, pilotos, sei lá.

Agora, se querem motivar através da ficção, fica a minha sugestão irônica: pegar os filmes que a Reebok produziu com o Terry Tate, ídolo deste blog desde sempre. Garanto que o resultado vai ser melhor!

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Comments (6)

  1. Ora vejam,

    Esse uso despropositado, ou de propósito pouco profundo, de obras artísticas dessa natureza é um esculacho.

    O valor de um filme como esse está no q podemos chamar de “tomada de conciência”, ou seja, a sociedade se vê naquela obra, e passa a ser mais capaz de refletir sobre sua propria condição.. Mas ora, usar isso para gerar um novo sentido, a partir do sentido q foi gerado pela obra, já é um ato q pertence ao campo da arte contemporânea, e não o de uma estratégia objetiva e racional de venda de sei-la-oq. Chega a ser fascinante esse tipo de coisa; o filme procura representar uma determinada realidade, ele gera sentido naquela mensagem que cria, a mensagem gera um efeito no espectador, um sentido, agora esse sentido, essa percepção(q provavelmente não foi assimilada por inteiro nem de maneira racional), é absolutamente reduzida a um novo propósito, q dessa vez não parte de uma realidade palpável mas de uma obra de ficção, re-transformando aquele sentido (q já era subjetivo) em um algo imprevisível e extremamente interessante. Pode ser o caminho para o colapso coletivo, ou só mais um tijolinho nesse imenso projeto social espetaculoso, viral e caótico.

  2. Se eles tivessem contratado o Dr. Marcelo, garanto que seria mais vantajoso. Dr. Marcelo prega valores como amor, compaixão, carinho ao próximo, e não a truculência do Tropa de Elite. ♪ Pisa na fulô, pisa na fulô ♫

  3. Vitor

    O problema é que nem sempre é necessário um filme de características ambíguas como o Tropa de Elite para sucitar uma interpretação completamente equivocada. No mais, essa coisa de pegar cenas de filmes e músicas como fonte motivacional pra mim é arriscado, senão uma saída fácil para elaborar uma palestra decente, com materiais que realmente tenham a ver com o universo dos ouvintes, porque isso sim exige pesquisa. Aliás, mais do que os exemplos do Felipe, o Tropa de Elite só mostra merda acontecendo, e absolutamente nenhum problema sendo resolvido: O Capitão Nascimente perde a esposa, é mal pago, doente, e seu trabalho não tem nenhum indício de que mudará a situação do crime no RJ. Mas o cara da palestra deve achar o filme legal, e tira completamente do contexto algumas cenas, porque devem “ilustrar” o ponto dele.

  4. Tibúrcio Barros

    Olá,

    Já tinha lido este seu post mas não achei nada de interessante para comentar na época. Até que neste fim de semana, não sei por qual motivo lembrei do seu post quando me perguntei quem seria o melhor exemplo corporativo para este filme. Seria mesmo o capitão nascimento?

    Se antes a resposta seria assim, hoje vejo que ele seria a última opção em uma empresa. Se de um lado tem a dedicação e força de vontade para alcançar as metas, o que me diz o relacionamento com a comunidade (clientes, fornecedores), alcançar resultados não importa a forma (o famoso saco plástico seria propina para fechar vendas?) e incapaz de avaliar corretamente os riscos de suas ações (filho baleado). Como vc afirma no texto, vai dar porrada na equipe, no cliente que não quer comprar, no fornecedor que não cumpriu prazo/qualidade prometida? Em uma reunião gerencial mensal, ele iria começar a dar esporro nos gerentes da empresa que não cumpriram o cronograma de desenvolvimento de produto? Pois bem, a minha percepção é que o modelo capitão nascimento não é válido na maior parte das empresas. Mesmo ele sendo dono, acredito que o rotação de funcionários seria bem alta.

    Na mesma hora pensei em quem seria o modelo corporativo ideal. Bem, no filme o maior prêmio é sobreviver e depois faturar em grana e politicamente. Quem sobrevive nos dois filmes, é promovido e consegue aumentar o patrimônio? O capitão Fábio. Ele tem quase todas as qualidades corporativas: é político pois consegue relacionar com os bandidos e os bonzinhos, não suja as mãos pois deixa que os outros o façam, cresce na corporação e no final fatura mais. Ele seria aquele gerente que na véspera da reunião mensal de resultados a ser apresentado para a diretoria, chamaria os outros gerentes para um bate papo depois do almoço e firmaria um acordo em que ninguém colocaria temas ruins dos outros gerentes (o você me ajuda que eu te ajudo). Me diga, já não viu isto antes nas empresas que trabalhou? Por isto, na minha opinião ele é o grande vencedor neste filme. Lembre-se do final do segundo filme com ele pilotando o iate e todos os comparsas dele mortos ou presos?

    Felizmente, ainda espero que o mundo melhore a partir de um capitão nascimento do que a partir do capitão Fábio. Concordo que é politicamente incorreto esta análise, mas o mundo não é perfeito nem nas empresas.

    Abraços,

    Tibúrcio Barros.

    • Felipe

      Oi, Tibúrcio, obrigado pelo seu comentário.

      Se tem um exemplo pior que o do Capitão Nascimento é, sem dúvida, o Capitão Fábio. Nada nele é digno de nota e é um perfil que eu não colocaria na minha empresa. E concordo com você, acho que todos nós trabalhamos em algum momento com um “Fábio”.

      Isso só corrobora com minha ideia de que este filme é impróprio para servir de referência para o mundo corporativo. Entre Nascimentos e Fábios, eu fico com nenhum! 🙂

      A casa está aberta.

      Abraço!

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