Na semana passada, assisti a dois espetáculos de dança para ver pessoas queridas nos palcos: Carol participou da apresentação de final de ano da escola de balé e a Fernanda, minha cunhada, fez a sua apresentação de flamenco.
Nunca havia visto a Carol bailarina nos palcos. Foi emocionante vê-la ocupando um espaço e um ambiente que lhe são tão familiares, afinal, o balé está na sua vida há mais de 30 anos. O bônus foi vê-la fazendo tudo isso e com uma barriga de 37 semanas de gestação.

Carol é a segunda da esquerda para direita.
Ver a Fernanda dançar é um presente para a audiência, com seu domínio dos passos e dos espaços no Flamenco. Aliás, este é um gênero que acho super interessante pela marcação, pelo sapateado e pelas palmas.

Fernanda é a primeira em pé da direita para a esquerda.
Meu olhar amador para a dança, além de impressionado com as coreografias, ficou vidrado nas expressões faciais e corporais das outras mulheres que estavam no palco. Minha cabeça ficou imaginando o que as motivou para estarem ali.
Entre sorrisos, movimentos expansivos, seriedade, movimentos mais tímidos das meninas e mulheres entre 13 e 70 anos, lembrava de um trecho da carta que o escritor Kurt Vonnegut mandou para alunos da Xavier High School em 2006 e que já foi citada no blog.
Pratique qualquer arte, música, canto, dança, atuação, desenho, pintura, escultura, poesia, ficção, ensaios, reportagens, não importa quão bem ou mal, não para obter dinheiro e fama, mas para experimentar se tornar, descobrir o que há dentro de você, fazer sua alma crescer.
Lembrei de quando eu entrei em uma escola de dança de salão pela primeira vez, há uns 20 anos. Cético e traumatizado com o ocorrido de anos antes, quando tentava dançar forró com uma colega de trabalho e após um minuto, ouvi em alto e bom som: “Cabeça, você não nasceu para dançar”. Carreguei isso para as primeiras aulas, sem sequer entender que a vulnerabilidade e a exposição são muito maiores na dança do que na música.
Na minha posição de baterista, embora eu tenha um papel fundamental na condução da música e da banda, eu toco um instrumento onde é fácil se esconder. Eu posso montar os pratos e os tambores mais altos, posso me curvar para ficar menos exposto, posso fazer o show inteiro sem interagir com a banda e com o público. De fato, é legal ver como os pratos foram ficando cada vez mais baixos ao longo da minha jornada.

Em abril de 2001, o último show do Álamo, minha primeira banda.

Tocando com meus amigos de escola em julho de 2023. Foto: Tamas Bodolay.
Sim, eu sei que a dança de salão tem muito pouco a ver com balé e flamenco. Mas quando dançamos, não há nenhuma barreira que te separe do público, tipo um instrumento musical. E embora seja um ato coletivo, encarar os medos é um exercício solitário. Ao mesmo tempo que via mulheres muito confortáveis no palco, outras estavam mais tímidas e tensas. Ainda assim, todas vencendo a exposição, executando uma coreografia, estendendo braços e pernas, batendo palmas, se deslocando pelo palco, marcando o tempo. E olhos bem abertos para não perderem nadinha.
De fora, imaginei as diversas histórias: quem dança há muito tempo, quem voltou a dançar depois de um longo tempo, quem começou a dançar há pouco, quem quis dançar para vencer a timidez ou porque só conseguiu tempo para fazer isso na idade adulta.
E tal qual quando estou vendo ou tocando em um show, não liguei para os errinhos, para os olhares inseguros ou os sorrisos tímidos. Fiquei feliz em ver um espaço seguro sendo ocupado por pessoas que, por diferentes razões, estão se tornando e fazendo as suas almas crescerem.
Que mais gente possa experimentar esses sentimentos.
Eti
Emocionei. Chorei.
FERNANDA
Emocionante!! Obrigada pela homenagem!
Stella
Por mais homens como você neste mundo Felipe !!