Uma carta para São Paulo

15 de janeiro de 2025
Posted in Divagações
15 de janeiro de 2025 Felipe

Uma carta para São Paulo

Oi, cidade de São Paulo, tudo bem?

Esta é uma carta de despedida. Em alguns dias, vamos tomar rumos diferentes. Digo, você continuará onde está, eu estou voltando para Belo Horizonte. Antes de partir, queria escrever algumas palavras sobre a gente.

Nossa história começou em 1994, quando os Almeida Fares Menhem vieram fazer uma excursão. Eu conheci o Playcenter, o Simba Safari, o Parque da Mônica no Shopping Eldorado, o The Waves e lembro de ter ido ao KFC (ou era Dunkin’ Donuts?) em algum lugar da Paulista.

Depois, em 1999, o papai me trouxe para ver o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Chegamos no sábado à noite para ficar na casa de um amigo dele no Santa Cecília. Pegamos a chave com o dono do bar no térreo do prédio. No dia seguinte, fomos ao Autódromo de Interlagos. No final, rachamos um táxi até o Aeroporto de Congonhas.

Já morando aqui, eu fui entender a distância de Santa Cecília até Interlagos. É muito maior do que eu sequer poderia imaginar na época.

Em 2003, vim encontrar uns amigos da escola. Fiquei na casa do Tio Ângelo e da Simone na rua Bela Cintra. Fomos almoçar na Liberdade e na minha observação da rua Galvão Bueno soltei um sonoro “nossa, como parece a rua XV lá em Barbacena”. Não tem nada a ver, mas era o meu referencial.

Vim pontualmente entre 2006 e 2008 para trabalhar, comemorar os 30 anos da Bia e o batizado do Hugo.

Foi só em 2010 que, por uma razão profissional, você virou a minha casa. “Topei tentar a sorte” aqui e nos conhecemos melhor.

Foram 14 anos, oito meses e 14 dias de muitas coisas legais. Foram seis casas, seis trabalhos, várias oportunidades de conhecer e fazer coisas que eu jamais imaginaria fazer, e celebrar coisas que talvez fossem difíceis na minha cabeça teimosa de Belo Horizonte.

(Acho que a Ruth Rocha escreveu “Eugênio, o Gênio” pensando em mim.)

Criei meu pequeno universo paulistano caminhando. Seja flanando pelo centro, pelo arredores da Paulista para te conhecer melhor, ou nas atividades do dia a dia. Não raro, saía caminhando de Pinheiros até o trabalho na Berrini, ou de Moema até Pinheiros para fazer Crossfit.

No caminho, prestava atenção nos prédios, nas pessoas, no comércio. Prestava atenção nos pensamentos também. Caminhar por você sempre foi simbólico para quem tinha a absoluta certeza que morreria sem se movimentar, com medo de cortar as raízes de Belo Horizonte.

Falando em raízes, criei algumas improváveis por aqui. Você me apresentou duas turmas muito legais: a do crossfit e da prática de banda. Quero (e vou!) escrever algumas palavras carinhosas sobre essas duas turmas, sobre identificação e pertencimento.

Felizmente, saio bem diferente do que quando cheguei. Cortei as raízes e cortei a narrativa da minha juventude: a certeza absoluta de que era legal e descolado falar que eu seria um ancião (descolado!) na Serra do Curral, com meus pés se confundindo com o minério de ferro.

Topei mudar, e te conhecendo, São Paulo, acabei me conhecendo também. Pegando metrô lotado, confundindo as portas de saída do metrô nas estações, conhecendo os restaurantes, transferindo título de eleitor e carteira de motorista, reclamando do trânsito, conhecendo gente… só resisti bravamente ao hábito de chamar as pessoas pela primeira sílaba do nome.

Foram construções, reconstruções, descobertas e de uma constante lembrança de que precisamos estar sempre em movimento. Decidimos voltar para BH para ficarmos mais perto da família, para poder ter uma rede de apoio, para ficarmos menos isolados. Apesar de tudo, você é uma cidade muito dura nesse sentido.

E eu sei que é difícil ouvir isso, mas não sei dizer se um dia voltaremos. Precisamos viver e acreditar nessa nova fase, feliz, mais acolhedora e “que seja eterna enquanto dure”. Continuaremos nos vendo eventualmente, sabendo que cada reencontro nosso será carinhoso.

Te agradeço muito, São Paulo, por tudo.

Com carinho,

Felipe

 

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