Do Porto

1 de janeiro de 2025
Posted in Oh vida!
1 de janeiro de 2025 Felipe

Do Porto

No apagar das luzes de 2024, Maria do Porto Cândida de Jesus, 85, foi descansar. Uma vida de labuta, que começou aos seis anos (!) e que ficou restrita à cidade de Belo Horizonte, reflexo da desigualdade baseada no gênero, cor da pele e no recorte sócio-econômico.

Do Porto, ou “Dú”, tinha uma voz de cantora de blues, um humor refinado e uma inteligência acima da média.

Chegou para trabalhar lá em casa há uns 30 anos, por indicação de uma amiga dos meus pais. Na primeira ligação, mamãe ficou confusa com a voz do outro lado da linha. Ouviu “Maria do Porto” e achou que havia falado com o “marido da Do Porto”.

Certa vez, ela fez um pudim de pão e vendo que a pessoas não davam fim nele, escreveu “Aqui jaz o renegado” em um pedacinho de papel.

Em outra, o gato chamado Gato que habitou nossa casa entre 1996 e 2000, voltou de sua excursão na rua com uma rolinha na boca. Ao ver a cena, Do Porto olhou com cara de reprovação e disse “seu perverso”.

Naomi, a Whippet nº. 1, tinha um respeito absurdo pela Do Porto. Num ponto em que ela saia de onde estivesse quando ouvia as palavras mágicas “Naomi, hora do café”. A Dú sofreu com sua partida e eu acho que a Naomi fez uma festa na sua chegada.

Ela ficou devastada quando caiu no golpe do falso sequestro da Natália. “Escuto tanto sobre isso na rádio. Não era pra eu ser enganada”.

E eu, na minha experiência morando sozinho, recorri à ela no dia que fiz arroz pela primeira vez. Liguei, ela me deu as medidas e o passo a passo para o arroz soltinho e foi um sucesso. Sigo as dicas e a receita desde então.

São casos e histórias dessa mulher especial.

Vá em paz, Dú, e obrigado por tudo.

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