Tenha conversas difíceis (ou: Retrospectiva 2017)

31 de dezembro de 2017
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31 de dezembro de 2017 Felipe

Tenha conversas difíceis (ou: Retrospectiva 2017)

O post é sobre meu 2017, mas eu queria começar com um contexto.

Eu gosto bastante do trabalho do artista plástico Andy Leek. Ele é autor do “Notes for Strangers”, colando seus cartazes com frases otimistas por Londres. Vale a pena seguir tanto a hashtag quanto o próprio Andy no Instagram. Aposto que vocês vão se identificar com várias rapidamente. Eu me identifiquei com essa:

"Conversas difíceis salvam relacionamentos" - Andy Leek/You Pretty City

“Conversas difíceis salvam relacionamentos” – Andy Leek/You Pretty City

Conversas difíceis salvam relacionamentos. Isso define o meu ano. E assumir as conversas difíceis fez 2017 ser o melhor ano que tive até agora. E eu explico a razão.

Eu sempre tive muita dificuldade em ter conversas difíceis. Vejam, eu acho que não existe uma régua universal para o que é “fácil” e o que é “difícil”. Depende de cada um. Pra mim, “difícil” era qualquer conversa que fosse causar um ligeiro conflito, que fosse contrariar a outra pessoa (e quanto mais próxima, mais complicado) ou que eu precisasse falar “não”. Cada vez que isso acontecia, eu vivia um cerco viking de Paris dentro de mim. Por fora, eu aparentava tranquilidade.

Mas muito disso é ruim. Muito ruim. Não querer contrariar as pessoas acaba tendo um preço alto. Você acaba se distanciando de quem você é e se molda pelos outros. E, mais grave, ao longo do tempo, o ato de não se expressar cria um abismo tão grande entre você e os outros que a única ponte possível vai ser uma conversa difícil. Foi isso que aconteceu comigo.

Saibam, pessoas, que vários anos de silêncio e passividade acumulados podem colocar vários relacionamentos em risco. Isso é péssimo. No entanto, se expressar, ter conversas adultas difíceis, sem medo de entrar em conflito, podem resolver a situação.

Comecei tendo uma comigo mesmo. Depois de anos protelando, comecei a fazer análise. De quebra, comecei a visitar um psiquiatra também. Eu tenho 35 anos de coisas para falar e resolver comigo mesmo e a análise tem sido um alento nisso. Alguns dias absolutamente horríveis. Ainda me meço muito pela régua dos outros e acho que preciso sempre trazer assuntos incríveis ou ter conclusões maravilhosas em toda sessão. Ou exatamente porque essas conclusões maravilhosas tem o efeito inverso. Os cortes lacanianos me deixam pensativo por semanas. No entanto, o resultado no final é maravilhoso. Me entender melhor e entender as coisas que me angustiam faz com que eu entenda e me relacione melhor com os outros.

O psiquiatra tem sido importante também, porém em um curto prazo. Descobri que faço parte dos 4,4% da população que sofre de depressão e, embora leve, tinha (ou tem) me atrapalhado de vez em quando. E o remédio foi super importante no começo do tratamento.

Depois disso, aos poucos, estou tendo conversas difíceis com aqueles que estão a minha volta e dividem a vida comigo. Não é fácil, porque a gente não vira a chave de uma hora pra outra. “Não falei nada durante anos, agora vou falar tudo, se preparem”. Não é assim que funciona. Mas uma mudança de postura faz uma diferença danada. Como o próprio Andy Leek diz, “intenções claras simplificam as coisas”. Nesse ponto, a idade ajuda, porque o drama diminui, a maturidade aumenta e as conversas são para expor e resolver coisas e não só para tumultuar. Demorou, mas entendi que, eventualmente, precisamos entrar em conflito para chegar na solução.

É um processo que está longe de terminar. Aliás, eu espero que não termine, porque se conhecer melhor e ser uma pessoa melhor (principalmente) para mim e para os outros está sendo recompensador. Isso significa relações mais transparentes, tranquilidade de espírito, mais clareza para ver as coisas.

O que acaba refletindo nas outras coisas do meu ano. Eu gravei a bateria de uma música do disco “Somos Instantes” do Raphael Mancini, fui para o SXSW pela segunda vez, me perdi (e me encontrei) em Buenos Aires, virei padrinho da minha prima, celebrei um casamento, conheci Abu Dhabi e trabalhei na WorldSkills novamente e vi a Olívia ser mãe. Continuei fotografando como gosto, fiz música com gente muito boa e descobri que o Crossfit realmente vicia e faz bem pra cabeça.

Finalmente, depois de um 2016 complicado, eu e o Marcos aproveitamos esse ano para conhecer mais pessoas, novos modos de trabalho e acredito que estamos colocando a 42formas nos trilhos.

É, 2017 foi longe de ser um ano fácil, mas foi um ano do caralho.

Pode vir, 2018!